Este documento é parte do nosso Acervo Histórico

Noticiário Lowndes – Nº 22

1 de junho de 1949
É fundamental destacar que as informações contidas em nosso arquivo histórico são uma expressão do contexto da época em que foram produzidas. Elas não necessariamente refletem as opiniões ou valores atuais da nossa empresa. À medida que progredimos e nos ajustamos às mudanças em nosso entorno, nossas visões e princípios também podem evoluir.

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A Necessidade Do Intercâmbio

Não há organismo, por superior ou perfeito, capaz de viver em puro isolamento. Seja ele homem, ou seja uma instituição, é-lhe imperiosamente necessário o intercâmbio social, a troca de experiências e pontos de vista, a partilha de sentimentos e de ideias. Homem só, dizia S. João, ou é um deus ou é uma fera.

Com efeito, sem irmos ao extremo do conceito do santo evangelista, e aplicando-o às empresas comerciais, devemos concordar que, sem um intercâmbio são e contínuo, que areje as ideias e os métodos, que abra novas vistas, não seriam possíveis o desenvolvimento e o progresso. Muito ao contrário, o isolamento, como sucedeu à China milenar, encastelada atrás da sua famosa muralha, leva à estagnação, e esta representa o atraso, em relação aos que avançaram.

Fiel aos seus princípios, a Organização Lowndes nunca viveu isolada, nem jamais se julgou na posse da perfeição. E no seu afã de progredir e de melhor servir a comunidade brasileira teve sempre em mente – e exerce-o sem descanso – manter o intercâmbio com os centros mais adiantados e com os técnicos mais idôneos para que, da observação e da troca de ideias, possam advir melhoramentos nos serviços que presta ao público.

Neste momento acha-se nos Estados Unidos um dos chefes da Organização Lowndes – o Sr. Vivian Lowndes. Sua viagem prende-se precisamente a esse desejo, que nunca nos abandona, que é o de melhorar sempre. O Sr. Vivian foi em viagem de negócios e de observação a um grande centro, onde o seguro e o comércio de imóveis são da mais alta importância e apresentam as mais modernas e racionais modalidades. Dada a sua grande experiência comercial e o seu alto senso de observação, é lícito esperar que o Sr. Vivian traga dos Estados Unidos novos ensinamentos de valor, capazes de se adaptarem ao nosso meio e suscetíveis de contribuir para o progresso de nossa Organização e benefício de nossos clientes.


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O Descobrimento Do Mundo: Portugal e o Infante Infante D. Henrique II

A. M. Braz da Silva (Para o Noticiário Lowndes)

D. Henrique, filho bem-aventurado de D. João I e D. Felipa de Lencastre, pertenceu àquela “inclita geração”, de “altos infantes” perpetuados pelo gênio da língua em “Os Lusíadas”.

Desde muito cedo recebeu primorosa educação, sob o olhar austero e vigilante de D. Lopo Dias de Sousa, Grão-Mestre da Ordem de Cristo e mordomo-mor da Casa dos monarcas.

Quanto à proficiência de D. Lopo, não há mister repetir que “era homem de grande conselho, prudência e valor; tanto no gabinete era escutada a sua fala, como seu braço era valente no campo da ação”.

Lembra muito bem Costa Brochado: “É natural, portanto, que, ao passo que Mécia Lourenço, mulher do cavaleiro da ordem de Cristo, Vasco Gonçalves, amamentava o pequenino Infante D. Henrique, fosse D. Lopo, Grão-Mestre da ordem, nele pondo os olhos e visionando o seu prestigioso sucessor!”

A história de Portugal oferece sempre documentados lances de heroísmo. O povo português conquistou a terra em que desejava fixar-se, indo, depois, à conquista dos mares e dos mundos distantes.

D. João I pensava nos mouros e planejava destruí-los, resguardando, sabiamente, a integridade de sua igreja.

Logo que a paz com Castela ficou assentada, o objetivo da corte portuguesa passou a ser Granada, onde os mouros dominavam, debruçando-se sobre o Mediterrâneo, através de Gibraltar!

O problema, portanto, consistia na livre navegação do Mediterrâneo, na direção do Oriente.
Antes de mais nada, cogita o rei de armar cavaleiros a seus filhos, já em idade própria. Era intenção realizar festas de vulto cujos reflexos na Europa valessem como uma consagração das armas de Avis.

Transmite-nos Zurara as palavras de D. João I: “Se me Deus por sua mercê traz sossego a este reino per firmeza de pazes com Castela, eu quero ordenar umas festas reais que durem todo um ano, para as quais mandarei convidar todos os fidalgos e gentis homens que tiverem idade e disposição para tal feito que houver em todos os reinos da cristandade, e ordenarei que nas ditas festas haja notáveis justas e grandes torneios e muito abundantes convites servidos de todas as viandas que se por todo meu reino e fora dele possam ter. E dessas danças e outros jogos serão tantos e tais que assim deles como de todas as outras coisas as pessoas que o virem tenham que sobre a grandeza delas não se possam fazer outras maiores. E com isso darei tantas e tão grandes dádivas principalmente àqueles estrangeiros que a grandeza e doçura dos benefícios que lhes eu assim fizer lhes ponha necessidade de os apregoarem grandemente entre todos seus amigos e em fim destas coisas farei meus filhos cavaleiros”.

Vemos, por conseguinte, que a vontade real estabelecia festas inigualáveis durante um ano, com o objetivo especial de elevar os infantes de Portugal à condição honrosa e ambicionada de cavaleiros.

Depois disso, o extermínio dos mouros… Entretanto, as coisas não se assim passaram. 

Os futuros herdeiros dos brasões imaculados de Avis exigiam outros caminhos, provas mais duras e mais exatas para a ascensão à dignidade da cavalaria.

Diz Zurara: “Empero os Infantes lembrando-se quem eram e a alteza do sangue que tinham, posto que isso feito a outros alguns parecesse grande, a eles pareceu muito pequeno”.

Não se conformavam os filhos de D. João com as festas em perspectiva; queriam, decididamente, o combate real, a guerra cruenta e verdadeira, como brasão de suas armas.

Achando-se, certa vez, em presença do Conde de Barcelos (que era o Senhor D. Afonso, filho natural del-Rei D. João I), trataram com absoluta franqueza do assunto, pedindo-lhe conselho.

“Vamos”, disseram eles, “falar ao Rei, nosso senhor e pai, e digamos-lhe que ordene em que possamos fazer de nossas honras onde nós ele possa fazer cavaleiros, como pertence à grandeza de seu estado e à excelência de nosso sangue”.

A verdade é que, depois de conversas prolongadas e frequentes reuniões, às quais compareciam os homens de maior prestígio no reino, ficou assentada a conquista de Ceuta como prova de honra dos novos cavaleiros!

Sabe-se que D. João I guardava intimamente esse projeto. Amadurecia em seu espírito varonil a arremetida contra o Norte africano, à entrada do Mediterrâneo.

Alvoroçava-se a corte; O povo deixou-se arrastar pelo entusiasmo real; a nacionalidade fervia de ardor patriótico e religioso, pensando na mourama infiel e nos árabes dominadores do oceano!

São indescritíveis, pela nobreza moral, os episódios que se sucederam no palácio do Rei e nos salões majestosos da sua nobreza.

D. Filipa de Lencastre dizia ao amado marido: “E eu tenho intenção de vos requerer que os afasteis dos jogos e das folgas e os coloqueis (referindo-se aos filhos) nos trabalhos e perigos!” D. João respondeu-lhe que iria a Ceuta com os filhos de sua alma!

Conta um autor que o conselho do Rei se reuniu em Torres Vedras sob a presidência de D. João I e dele ouviu o relato dos planos que visavam a conquista de Ceuta. Antes, porém, exigiu ao monarca que todos jurassem “no lenho da Vera Cruz e sobre o livro dos Evangelhos” que, “jamais diriam a quem quer que fosse, o que ali se passasse”.

“O condestável Nun’Álvares Pereira, que foi o primeiro a falar, limitou-se a dizer que o que a mim parece é que este feito não foi achado por vós nem por nenhuma outra pessoa deste mundo, somente que foi revelado por Deus”. E dizendo isto, ajoelhou diante do Rei, beijando-lhe a mão “.

A partir daí, nada se fez em Portugal que não estivesse relacionado com a conquista de Ceuta. A expedição recebeu os cuidados adequados ao destino que lhe haviam reservado. Sentia-se o sangue heróico do povo lusitano a impregnar de bravura e ansiedade aquela portentosa e indomável cruzada! 

Uma nuvem sombria veio pousar em terras portuguesas: uma doença insidiosa se abateu sobre a ilustre rainha e virtuosa mãe dos infantes.

D. Filipa chamou João Vasques de Almada e disse-lhe “que mandasse fazer três espadas ricamente adornadas, com ouro e pedras preciosas”.

Pouco tempo depois, entregou-as solenemente a D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique.

“Eram três lâminas preciosas, com punhos adornados de ouro, pedras preciosas e aljofres. Elas foram colocadas ao lado de seu leito. E, de pé, os filhos aguardavam ansiosos. D. Duarte chorava como uma criança; D. Pedro contia os soluços que lhe subiam ao peito; D. Henrique mordia os lábios com fúria, torcendo as mãos nervosamente. Em coro, as aias gemiam. Com um gesto da mãe, os infantes ajoelharam-se; e então ela, erguendo-se como se estivesse morta, entregou a D. Duarte uma espada, recomendando-lhe que fosse um rei justo; a D. Pedro, outra, exortando-o à honra e à cavalaria na defesa das damas e donzelas; a D. Henrique, outra, lembrando-lhe do amor à nobreza. E abençoou a todos”.

O rei fugiu do quarto e refugiou-se em Alhos Vedros para evitar o golpe que pressentia.

“Entreabrindo os olhos, com uma voz sumida, ouvindo o assoblar do vento nas telhas do palácio, disse para os filhos:

— Que vento corre?
— Agulão do norte.
— Bom seria para a vossa viagem… Eu esperava assistir à façanha…
— Ve-la-eis.
— Não… Sim… Lá do alto a verei… A minha morte não vos estorvará a partida… Numa semana pela festa de Santiago…

“Tinha as mãos postas, diz Oliveira Martins, brancas de cera, a face eburnea, de uma suavidade seráfica, e o olhar virado ao alto, contemplando a virgem que a estava chamando do céu. Havia um silêncio divino.

Então puxou a roupa sobre a garganta, mandou que viessem os clérigos, comungou, foi ungida e quis que lhe rezassem o ofício dos mortos.

Expirou ao som do cantochão dos Padres. Morta, ondeavam-lhe os lábios com um sorriso angelical. Comenta o cronista Zurara: “Quem direitamente há de viver entra no mundo chorando e sai dele rindo”. 

Nesse instante, partiram, denodadamente, na direção de Ceuta, os navios de Portugal que haviam de conquistar a praça ambicionada!


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Maxwell Fry, Arquiteto e Urbanista

(Do BNS especial para o NOTICIÁRIO LOWNDES)

A esquerda: Maxwell Fry como consultor de urbanismo da Costa de Ouro, vê-se aqui entre seus ajudantes examinando um plano. À direita: o mesmo, com Jane Drew, diante do modelo de uma casa para professores que planejou sob encomenda do Governo da Costa de Ouro.

LONDRES – A influência de E. Maxwell Fry sobre a arquitetura moderna torna-se cada vez mais disseminada em todas as partes do mundo. Ele é membro fundador do Grupo MARS, iniciais que resumem o nome do Grupo de Pesquisas Arquiteturais Modernas (Modern Architectural Research), e o delineamento inglês contemporâneo deve aos esforços de Fry suas qualidades de harmonia e sobriedade, que o fazem aceitar tanto pelos aderentes do movimento como por aqueles que ainda hesitam em adotar plenamente as inspirações modernas.

Maxwell Fry, Sócio e Membro do Conselho do R.I.B.A (Instituto Real dos Arquitetos Britânicos), nasceu em 22 de agosto de 1899, e foi educado no Instituto de Liverpool, e na Escola de Arquitetura da Universidade de Liverpool, sendo então catedrático o Professor Charles Reilly; teve ainda a experiência de um verão passado nos escritórios de um dos arquitetos mais importantes de Nova York. De volta a Londres, tornou-se sócio da firma Adams, Thompson e Fry, associando-se mais tarde com Walter Gropius até que este último aceitasse a cadeira de arquitetura da Universidade de Harvard, passando então Maxwell Fry a trabalhar só até irromper a guerra.

Descontente com as ideias gerais que orientavam a arquitetura clássica e com meras plantas no papel, elaborou durante a crise de 1931 vários planos de habitações econômicas em cimento armado, sendo Sasson House em Peckham e Kensal House em Kensal Green realizações destes planos.

Ao irromper a guerra, ingressou no corpo de Engenheiros Reais, servindo primeiramente no Ministério da Guerra, e mais tarde na Costa do Ouro, até que foi nomeado Assessor Urbanista de Lord Swinton, Ministro residente na Costa do Ouro. Com sua esposa, Jane Drew, e uma turma de jovens arquitetos, traçou vários projetos para as cidades principais daquele território, e elaborou um completo sistema de planejamento urbano para as quatro principais colônias da África Ocidental. Em 1945, o grupo voltou para a Grã-Bretanha, onde realizaram um programa de construção de hospitais e escolas para o Governo da Costa do Ouro e para a Companhia Kuwait de Petróleo do Golfo Pérsico. Em 1947, foram convidados para fazer o projeto da Nova Universidade Nigeriana em Ibadan.

Jane Drew, que pertence igualmente à R.I.B.A., estudou na Escola da Associação Arquitetural em Londres e fez parte da firma Alliston e Drew até o deflagar da guerra, passando então a trabalhar sozinha, desenhando fábricas para indústrias de guerra. Foi eleita sócia da R.I.B.A. em 1942 e foi uma das duas membros femininas da Comissão de Reconstrução Pós-Guerra daquela organização.

Uma das principais obras de M. Fry, antes da guerra, foi este moderno conjunto residencial em Ladbrook Grove; Londres.

Fry e seus ajudantes terminando a maquete do Ahmadi General Hospital em Kuwait, no Golfo Pérsico.


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Definição Dos Riscos De “Má Estiva”

João Vicente Campos, Membro do Instituto Jurídico de Haia
(Da REVISTA DO IRB N. 52).

Designa-se por estiva (stowage, arrumagem, stauung) a disposição da carga dos navios. A estiva compreende três elementos: a) arrumação propriamente dita, que é a arte de dispor a carga nos porões, segundo sua resistência e conteúdo, e de forma a não prejudicar a estabilidade do navio e o bom aproveitamento da capacidade dos porões, facilidade de carga e descarga; b) a separação, que é a arte de dispor as mercadorias nos porões de modo a evitar danos por deterioração e contato com cargas sujeitas a emanações, cheiros e derrames; e c) a enfardagem (dunnage, fardage), que consiste em colocar pranchas e coxins para evitar o contato entre a carga e os costados do navio e pontaletes, manter os espaços necessários para ventilação e preservar a mercadoria das infiltrações da água do mar ou do aquecimento devido à vizinhança das máquinas.

Desde que a arrumação, separação e enfardagem sejam procedidas com cuidado e de acordo com os conhecimentos que se devem ter nos estivadores competentes, a estiva é considerada boa. Efetivamente, para que haja má estiva, é necessário que os estivadores cometam alguma falta. Se isso não ocorreu, não há como atribuir à má estiva quaisquer deteriorações consequentes ao desprendimento de gases ou cheiros imprevisíveis nas condições normais da navegação, ou que os estivadores não poderiam ter conhecimento devido ao caráter especial ou pouco conhecido da mercadoria.

Exemplifiquemos: não pode ser considerada má estiva o dano causado à carga por mercadorias que se deterioram por vício próprio, como frutas que apodrecem, salvo sendo certo que isso sucederia em consequência da disposição das mesmas no porão ou na duração da viagem. O risco nessa hipótese não é de má estiva, e sim, avaria particular, causada por vício próprio de carga de terceiro, o qual será suportado pelo segurador da avaria particular. (Acórdão do Supremo Tribunal Federal de 15-7-1899, publicado na Revista Internacional de Direito Marítimo, volume XVI, página 238). Também, quando é embarcada uma mercadoria cujas propriedades não são conhecidas na praça, não se pode imputar à má estiva o dano que elas possam, com suas emanações, causar à outra carga sensível às ditas emanações. Devemos considerar que o pessoal de estiva é pessoal de comércio, e não de peritos ou cientistas. Tratando-se, porém, de mercadorias de propriedades conhecidas como bacalhau e açúcar, das quais ninguém ignora que as emanações daquela prejudicam a esta, certamente incorrerá em falta o estivador que as arrumar de forma que o açúcar possa absorver o cheiro do bacalhau, e teremos má estiva.

O dano, ou avaria, que aconteça às coisas seguradas por motivo de má estiva não se compreende na responsabilidade do segurador. É o preceito do art. 711, n.o 6 do Código Comercial nestes termos: “O segurador não responde por dano ou avaria que aconteça às coisas seguradas por falta de estiva ou defeituosa arrumação da carga”.

Isso porque a nossa lei comercial impõe a obrigação e a responsabilidade da estiva sobre o armador e o capitão. (Cod. Com. art. 519). Destarte os prejuízos acontecidos às mercadorias, pela má estiva, são avarias simples, mas com regresso contra o mestre, navio e frete.

Nem sempre, porém, a má estiva dará esse direito regressivo. Como ensina Carver (Carriage by sea, n.o 276) “Though the master ought be skilful in the matter of stowing ships, this is to be construed reasonably; and mere ignorance of the effect of stowing particular kinds of goods together will not be imputed to him as negligence unless as a competent person he would reasonably be expected to know it. In Orloff v. Briscol, it was held not to be misconduct in the master to allow casks of oil to be stowed in the same hold with bales of wool and bales of rags might be damaged, and so might dry staves of the casks and render them leaky”.

Desses casos, e também do uso das cláusulas exonerativas nos conhecimentos que livram o armador e o capitão de responder pela má estiva, surgiu o seguro deste risco, do qual se tem abusado, para reclamações infundadas contra seguradores.

Porém, sempre acertaremos dizendo que só existe má estiva quando houver erro, negligência ou culpa na arrumação, separação ou enfardagem. Se a estiva foi boa, o segurador de má estiva não poderá ser responsabilizado por danos, como o do apodrecimento ou deterioração imprevisíveis de outras mercadorias, ou a ação de roedores, insetos, que podem acontecer, por melhor que seja a estiva. Os danos de má estiva são precipuamente os de queda de volumes por se encontrarem mal equilibrados, perfuração ou amolgamento por falta de enfardamento ou colocação de caixas excessivamente pesadas sobre embalagens frágeis, contato de mercadorias notoriamente sujeitas a contaminarem outras, pela gordura, acidez ou emanações fétidas. Só nestes casos opera o seguro de má estiva.


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O Aniversário Do Dr. L. Serpa Coelho

O aniversariante entre os Srs. Donald de A. Lowndes e Nestor Ribas Carneiro, cercado do pessoal que o homenageou.

A data natalícia do Dr. Luiz Serpa Coelho foi assinalada este ano nos ambientes da Cruzeiro do Sul Capitalização, com uma brilhante manifestação, cujo especial relevo resultou da presença dos Diretores da Sociedade e de grupos representativos de todas as empresas componentes da Organização Lowndes, presença que ofereceu tanto ao homenageado, como aos seus colaboradores promotores da festa, e aos visitantes, a reconfortante impressão de um legítimo e muito simpático ato de congraçamento.

Inaugurou a festividade Sr. Nestor Ribas Carneiro, Diretor Superintendente, com uma saudação singela e cordial ao aniversariante, não deixando pautar o interessante significado da participação visitante.

Tomou a palavra, a seguir, o Sr. José Alberto Rezende Santos, para enaltecer as qualidades pessoais e funcionais do homenageado e realçar, em ponderados termos, as benéficas repercussões que hão de advir do convívio de cordialidade que proporcionam tanto a Cruzeiro do Sul Capitalização como o harmonioso conjunto das sociedades cujos cargos de direção estão ocupados por homens de excepcional quilate moral e profissional.

Agradeceu o Dr. Serpa Coelho a todos os assistentes, na forma simples, jovial e camarada que lhe é peculiar, fazendo com que cada um se sentisse à vontade e satisfeito de ter participado desses momentos de alegria e confraternização, sentimento que, naquela hora, o Sr. René Brosar, Gerente Geral, soube traduzir com muita felicidade.

Flagrante da ocasião em que o Sr. Donald de A. Lowndes felicitava o Dr. Luiz Serpa Coelho pelo seu natalício.


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O Último Jantar Do S. S. Magdalena

Pelo Comte. Luiz Clovis de Oliveira

A popa do S. S. Magdalena encalhada em Imbuí.

A notícia correu célere e consternou a cidade. O “SS Magdalena”, um dos mais belos e mais modernos transatlânticos da Marinha Real, encalhara de madrugada numa pedra, do arquipélago das ilhas Tijucas, quando a poucas milhas da entrada da Guanabara. Vinha do Sul rumando para o Rio, a caminho da Inglaterra, de regresso da sua viagem inaugural, a magnífica nave, orgulho da Marinha Mercante Britânica. E seu comandante, um veterano lobo do mar, era a última viagem que fazia, pois, finda essa, seria aposentado, fato que mais pungente tornou o drama do “SS Magdalena”.

Imobilizado sobre a rocha, próximo à costa, com o mar calmo ao seu redor, dados os rápidos socorros proporcionados pelas Marinhas de Guerra e Mercante do Brasil, os passageiros foram retirados em ordem, e horas depois, na maré alta, desencalhou o belo “liner”, e com isso surgia a esperança de o salvar.

Era o “SS Magdalena” rebocado para o porto e estava quase a transpor a barra. De um lado o majestoso Pão de Açúcar, do outro a Fortaleza de Lage quando irrompe, imprevisto e brusco, o último ato desse drama do mar, que roubou à Marinha Mercante Britânica um dos seus mais modernos navios. O “SS Magdalena”, que fora na véspera açoitado por grossas vagas, consequência de uma mudança repentina das condições de tempo, parte-se em dois… A proa, em poucas horas, afunda. A popa, com toda a magnificência das instalações luxuosas e as máquinas propulsoras, à deriva vai dar à Praia de Imbuí e ali encalha.

A perda do “SS Magdalena” foi um rude golpe para a Marinha Mercante Britânica, não tanto, propriamente, pelo seu valor em moeda, pois estava segurado por £ 2.500.000 e a Marinha Real foi indenizada, mas por tratar-se de um navio de construção recente, com todos os requisitos modernos de segurança e boa navegação, e porque era motivo de justo orgulho para essa Marinha cheia de tradições gloriosas, com barcos em todos os mares e o conhecimento minucioso de todas as rotas. Só quem já comandou um navio pode avaliar, em toda a sua extensão, o que significa um desastre desses.

Afastada a possibilidade de desencalhar a popa, foi esta, finalmente, vendida a uma firma brasileira, que fará desmontar as turbinas, máquinas frigoríficas e todo o demais material que possa ser aproveitado, e, certamente, parte do seu casco lá ficará, batido pelas ondas, enterrando-se lentamente na areia, até desaparecer ou ser totalmente desmantelado e corroído pela ação do tempo.

O desastre do “SS Magdalena” veio demonstrar, mais uma vez, a velha fleugma britânica. Após dias de angústia, esperanças e esforços ingentes para salvar o navio, com a ajuda de todos os recursos e devotamento do pessoal da Marinha Brasileira, quer de guerra, quer mercante, perdidas as últimas esperanças, consumado o derradeiro ato da tragédia, voltou a brava maruja inglesa à serenidade, manifestando mesmo uma ponta desse “sense of humour”, que é tão britânico e tanto ajuda a levantar o espírito combalido ante um fato irremediável.

Essa nota de fleugma foi dada no jantar oferecido a bordo, a 3 de Junho, na popa encalhada em Imbuí, aos compradores dos restos do magnífico navio e que é atestada pelo espirituoso cardápio que reproduzimos ao lado e que aqui traduzimos:

Sopa à náufragos
Bife à sobreviventes
Ovos ao Rio
Batatas à Imbuí
Pão e manteiga
Frutas – Queijo – Chá

O chá será servido no Salão das Lanternas Dietz. (Queiram trazer as suas lanternas).
E assim foi servido o último jantar de gala do “SS Magdalena”, epílogo do lamentável drama, que deu fim a um soberbo transatlântico, o qual tão cedo veio encontrar seu túmulo naquela fresca praia, batida pelos ventos do Atlântico Sul, à entrada da mais bela baía do mundo, tendo a velar-lhe o sono eterno a rígida sentinela do Pão de Açúcar.


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Presidente Vitalício Da London & Lancashire

O “menu” do derradeiro Jantar do S. S. Magdalena

Notícia sobre Sir Frederick Rutter, de aproximadamente 90 anos de idade, que acaba de ser nomeado presidente vitalício da Companhia de Seguros London and Lancashire, empresa que vem atuando há 75 anos e presidindo há 28. Durante meio século, Sir F. Rutter tem sido praticamente o chefe da firma, tendo transformado-a de uma empresa modesta no colosso que é hoje, com um capital de 42 milhões de libras (mais de 3 milhões de contos). Agora, no entanto, segundo o comunicado, Sir Frederick terá um rival na figura de C. G. Hamilton, de 91 anos de idade, que acaba de se candidatar ao corpo de diretores da companhia.

Como se sabe, a London & Lancashire é representada no Brasil pela Lowndes & Sons Ltda. 


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Notas Sociais

Momentos antes da partida: o Sr. Vivian conversa com o Sr. Donald Lowndes.

Viajantes

Seguiu para os Estados Unidos, em viagem de negócios, o Sr. Vivian Lowndes, acompanhado de sua esposa D. Alexina A. Lowndes e sua neta Sta. Lilian Aguinaga Lowndes. O estimado fundador e chefe de várias firmas da Organização Lowndes teve concorrido embarque, ao qual compareceu grande número de amigos e pessoas de destaque nos meios comerciais, bancários, de seguros e da alta sociedade carioca.

Nascimento

A família Lowndes está em festa, especialmente John A. Lowndes e D. Lygia Lowndes, com o nascimento do seu primogênito em 8 de maio, que recebeu o nome de Ricardo no batismo. Com o passar do tempo, certamente teremos o prazer de ver no recém-nascido um cidadão útil à sua pátria e à coletividade, com a iniciativa e as qualidades que adornam seus antepassados.

Ao Ricardo e seus pais, o “Noticiário Lowndes” apresenta cumprimentos e expressa os melhores votos de felicidade.

Sr. René Brosar

No dia 15 de maio, comemorou-se o aniversário do Sr. René Brosar, gerente geral da Cruzeiro do Sul Capitalização.

Figura de destaque em nosso meio comercial, de caráter íntegro e espírito dinâmico, o estimado aniversariante goza de estima e prestígio geral entre seus colaboradores, que o veem como um guia competente e um incentivador incansável. Com grande capacidade de trabalho e profundo conhecimento do ramo, tem contribuído de forma eficiente para o progresso da Cruzeiro do Sul Capitalização, sendo responsável por grande parte de seu sucesso.

Por todos esses motivos, René Brosar mereceu as homenagens recebidas nesta data, às quais nos associamos com prazer.

Grupo feito na ocasião do embarque do Sr. Vivian Lowndes, sua senhora e sua neta.


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O 4° Centenário Da Cidade De Salvador

Theodoro Sampaio

Uma síntese da história da tradicional cidade, que foi a primeira capital do Brasil

No dia 29 de março transcorreu o 4.º centenário da fundação de Salvador, solenemente festejado em todo o país como data das mais expressivas da nacionalidade. Em homenagem a tal evento, estampamos a seguir um artigo de um notável sábio baiano – o Dr. Theodoro Sampaio – onde é admiravelmente enfeitiçada a história da gloriosa cidade nesses 4 séculos de existência.

Quando os descobrimentos marítimos dos Portugueses, no século XVI, atingiram o Novo Mundo, foram as terras de Porto Seguro, no Estado da Bahia, as primeiras avistadas pela armada de Pedro Álvares Cabral, que então ia em sua viagem para a Índia pela rota, há pouco, seguida por Vasco da Gama, através dos mares africanos.

Chamou-se “Monte Pascoal” o primeiro cabeço avistado do mar, em 22 de abril de 1500, e chamou-se “Porto Seguro” a angra abrigada, onde surgiu a armada de tão feliz descobrimento. A terra foi inicialmente chamada de Ilha de “Vera Cruz”, pois aos descobridores pareceu que estavam chegando a alguma ilha, desgarrada do Atlântico. No entanto, logo se verificou que era um novo continente, então passou a ser chamada de “Terra de Santa Cruz” e posteriormente de “Terra do Brasil”, nome que se originou e permaneceu devido à importância do comércio de pau-brasil com a Europa.

Em 1532, D. João III de Portugal dividiu a terra do “Brasil” em doze capitanias hereditárias e as distribuiu entre doze donatários, aos quais concedeu favores e privilégios com a obrigação de povoá-las às suas próprias custas.

As três capitanias, Bahia de Todos os Santos, Ilhéus e Porto Seguro, que atualmente fazem parte do território baiano, tiveram então o seu início de colonização europeia com pessoas trazidas do reino e das ilhas portuguesas do Atlântico. Na Bahia de Todos os Santos, logo na sua entrada, estabeleceu-se o donatário Francisco Pereira Coutinho em 1536, esforçando-se para colonizá-la, apesar da resistência obstinada dos nativos do país, os ferozes Tupinambás, que acabaram por expulsá-lo da capitania com perda total de seus bens.

Como se tentasse reaver o perdido, naufragou, ao voltar, nos baixios da ilha de Itaparica e pereceu às mãos dos seus feros inimigos, que, miseravelmente, o trucidaram.

Tanto que el-rei soube da sorte de Pereira Coutinho, conhecidas já as grandes possibilidades da Bahia, a fertilidade da terra, os seus bons ares, maravilhosas águas e abundância dos mantimentos, determinou de a tomar à sua conta para a fazer povoar e servir de centro e coração de toda a costa do Brasil, e, com esse intuito, mandou edificar nela, próximo do arruinado estabelecimento do donatário, uma cidade, que chamou do Salvador, donde se pudesse ajudar e socorrer todas as mais capitanias e ministrar justiça.

Aparelhou para esse fim uma expedição de cerca de mil homens em seus barcos e por comandante dela e governador nomeou a Thomé de Souza, que chegou à Bahia a 29 de março de 1549. Bem organizada e aparelhada veio essa primeira expedição a que outras se seguiram com gente, dinheiro e munições de boca e de guerra, e fundou-se, assim, em 1549, a cidade do Salvador, cidade forte, cercada de muros, sobre uma eminência a cavaleiro do porto, a primeira capital que teve este então chamado ESTADO DO BRASIL.

Cresceu a cidade e a população cresceu, cultivando as pingues terras do recôncavo da Bahia. A lavoura da cana de açúcar desenvolveu-se e fez a fortuna dos colonos e enriqueceu o Estado e atraiu gente das melhores e mais nobres famílias do reino. Concederam-se terras em grandes sesmarias e o gentio da terra, convertido ao cristianismo pelo zelo apostólico dos Jesuítas, começou de colaborar e de se ligar pelo sangue com os europeus, facilitando o trabalho da conquista, realizada esta, a princípio, ao longo do litoral e depois, pelo interior adentro nos sertões ocidentais. 

Razões de ordem econômica logo no primeiro século da conquista, levaram os colonos estabelecidos no litoral a organizar expedições ou “bandeiras” para cativar o gentio da terra, refugiado no sertão e trazê-lo para as lavras que, no seu crescente desenvolvimento, requerem braços para desbravarem as terras virgens e para o trato dos canaviais. Mudavam-se ainda essas “bandeiras” quando ao escravo indígena se preferiu o africano e o colono ambicioso sonhou com as minas de prata de Robério Dias e logrou descobrir o ouro nas chapadas de além S. Francisco.

Apesar das lutas com os piratas e corsários que assaltavam as povoações ao longo do mar e queimavam os estabelecimentos agrícolas depois de saqueados, apesar da prolongada guerra contra os Holandeses, na primeira metade do século XVII, na qual os portugueses chegaram a perder o Nordeste do Brasil, tendo o Recife por centro, e até a própria cidade do Salvador, capital do Estado, restaurada todavia um ano depois, a expansão agrícola, a conquista do sertão, o povoamento do solo não empeceram.

A cidade do Salvador, capital do Brasil, cresceu e tornou-se com vultuosas construções: teve luxo e faustos a sua gente dinheirosa, e se fez um dos grandes centros de irradiação do progresso do país, como o Recife, ao Norte, o foi da expansão até o vale do Amazonas, e São Paulo, ao Sul, o foi para o vale do Paraná-Paraguai.

Da Bahia, no centro, saíram os conquistadores e povoadores de Sergipe; saíram os descobridores do S. Francisco para cima do grande “Sumidouro” (cachoeira de Paulo Afonso); saíram primeiros povoadores afazendados nos sertões do Piauí; sertanistas, oriundos da Bahia, deitaram raízes até os sertões do Ceará para além dos Cariris e da Serra do Araripe; entraram pelos fundos do Maranhão, uma vez transpostos o S. Francisco e o caudaloso Parnaíba; foram, pelos campos além do Espigão-Mestre, até beberem das águas do médio e do baixo Tocantins, cruzando-se com as bandeiras paulistas, foram os batedores dos sertões mineiros no Rio Pardo, no Jequitinhonha e no Mucuri; foram ainda como aventureiros, os chamados “emboavas”, para além do Rio das Velhas, disputar e tomar aos paulistas as minas de ouro que estes descobriram.

Foi da Bahia que saíram os conquistadores e principais povoadores do Rio de Janeiro, com Mem de Sá.

Foi da Bahia o grosso da população mineira, que lavrou o ouro, quando os paulistas, desenganados, mudaram rumo das suas impávidas “bandeiras” para Goiás e Mato Grosso.

Centro da direção administrativa do país, foco da cultura maior da colônia, berço de origem de tantas populações perdidas nesses sertões ocidentais, Bahia é chamada a “alma-mater” do Brasil. Tradições, costumes, troncos genealógicos das principais famílias do país; tudo guarda a Bahia como padrão de suas glórias na formação da nacionalidade brasileira.

Em 1763, quando se transferiu a sede do Governo do Estado para o Rio de Janeiro, por se atender, mais de perto, ao trabalho e defesa das minas de ouro e de diamantes e à expansão do domínio português no Rio da Prata, em cuja margem esquerda, em frente de Buenos Aires, se fundara, em 1680, a Colônia do Sacramento, a Bahia não perdeu, com tudo isso, a primazia de centro da maior riqueza econômica do país.

A sua população, o seu desenvolvimento econômico conservaram-lhe a primazia que só veio a perder muitos anos depois da independência nacional.

Nas lutas por essa independência, em 1823, foi a província da Bahia a que mais se assinalou, derramando sangue brasileiro em prol da liberdade da Pátria. Bahianos, desde os tempos coloniais, distinguiram-se nas letras, nas artes e nas indústrias. Escritores, poetas, oradores, homens de Estado dos mais ilustres que têm tido o Brasil, são filhos da Bahia.

Aspecto típico moderno de Salvador: o elevador Lacerda.


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Curiosidades De Ontem e De Hoje

Paciência e boa vista

Há nos Estados Unidos um cidadão com a habilidade e a paciência de escrever sobre um grão de arroz. Em 1929, naturalmente a título de ensaio, escreveu ele, num selo do correio, a brincadeira de 24.000 letras. Em 1935 mereceu as honras de campeão mundial do gênero, traçando 9.007 caracteres num grão de arroz, para satisfazer o famoso Robert L. Ripley do “Creia-se ou não”. Pois bem: não satisfeito com isso, o sr. James W. Zaharee, que é este o nome do herói, copiou sobre um só lado de um grão de arroz toda a Declaração da Independência, o nome das 13 colônias e as 56 assinaturas – um total de 7.576 letras – com o auxílio de um microscópio.

Eis aí um homem com a paciência necessária para resolver a questão do bloqueio de Berlim…

Acende com o choro

Um curioso aparelho que certamente será muito útil às mães, é o “Electronic Babylight”, inventado por um engenheiro da General Electric. Trata-se de um dispositivo eletrônico que, por meio de um microfone, que recolhe o som, faz acender uma lâmpada quando o bebê chora. O aparelho opera com a corrente comum, podendo ser adaptado a outros fins, bem como apagar, em vez de acender, a lâmpada, ou emitir um sinal sonoro, de modo a avisar alguém distante.

Erros de revisão sacrílegos

Os erros de revisão tipográfica causam às vezes dores de cabeça a muita gente boa… e divertem o público não poucas vezes. Eis alguns exemplos históricos.

O Papa Sixto V mandou publicar, em 1590, uma edição da Bíblia, exigindo que saísse trabalho limpo, isento de erros, pois o texto era a versão oficial da igreja. Ele próprio acompanhou a revisão das provas e, considerando a edição como exemplar, mandou estampar-lhe uma bula excomungando todo aquele que se atrevesse a fazer qualquer alteração. Qual não foi, porém, o espanto e o júbilo do público ao verificar que a edição estava cheia de erros de revisão.

Resultado: Sixto V viu-se obrigado a mandar destruí-la, sendo os raros exemplares que escaparam vendidos por alto preço.

Numa outra edição da Bíblia, esta saída em Halle, em 1710, apareceu este incrível erro de revisão, no referente aos 10 Mandamentos: “Cometerás adultério”! Noutra, saída em Londres, em 1653, apareceu este deslize edificante: “A fim de que todos conheçam o meio de chegar à riqueza mundana”, em vez de divina.

Como se vê, o mal é velho e nem respeita os livros sagrados.

O ar que respiramos

O ar que respiramos normalmente contém muito mais do que a indispensável mistura de oxigênio e nitrogênio. E isso sem falar na atmosfera dos lugares poeirentos ou cheios de emissões. Segundo um relatório dos engenheiros da seção de ar condicionado da Westinghouse, se conseguíssemos pegar e analisar todo o ar contido numa sala de visitas comum, num dia quente de verão, verificaríamos que o mesmo contém cerca de 1.200 bilhões de partículas de poeira, meio milhão de bactérias, alguns milhões de partículas de pólen, e ainda um litro e meio de água.


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Preço De Custo De Produção

Roberto Vayssiére (Artigo transcrito da revista “Publicidade & Negócios”)

O presente artigo não apresenta nenhuma novidade para os doutos na matéria nem tampouco para muitos dos administradores de fábricas ou oficinas; foi feito para a maioria das pequenas indústrias ou oficinas que, ou porque não possuem recursos suficientes ou por falta de conhecimentos básicos, não calculam os seus preços de custo pelo valor real dos mesmos.

A estas só resta o recurso de aguardar o fechamento de seus balanços anuais a fim de poderem conhecer o resultado de seus esforços durante o ano.

Preliminarmente devemos classificar os diversos tipos de indústria:

a) As que produzem determinados artigos de sua fabricação para depois colocá-los no mercado consumidor. Tais são as indústrias de produtos químicos e farmacêuticos, tecidos em geral, material elétrico, material sanitário, louças, cerâmicas, etc.

b) As que só produzem por encomenda, isto é, que recebem os pedidos mediante apresentação do orçamento. Deste tipo são as tipografias, os ferreiros, os fabricantes de lataria, caixas de papelão, madeiras, oficinas metalúrgicas, etc.

c) As que produzem seus próprios artigos e, também por encomenda. Neste tipo se encontram as papelarias com oficina, fábricas de móveis, de diversos tipos de vidro, oficinas metalúrgicas, etc.

d) As que nada produzem diretamente, porém prestam serviços por encomenda: são as oficinas de reparo em geral ou de limpeza e conservação, etc.

e) As que produzem por encomenda e prestam serviços. Neste grupo encontram-se os construtores, as oficinas com fabricação de peças, etc.

f) As mistas, que tanto produzem diretamente como por encomenda e, ainda, prestam serviços. Neste grupo encontram-se certos tipos de oficina, que produzem determinados artigos para colocá-los no mercado como também por encomenda e, ainda, prestam serviços de reparos ou ajustes, tais como fabricantes, montadores, conservadores, reparadores de elevadores e de máquinas em geral, etc.

Como se verifica, para cada tipo é necessário fazer um estudo sobre a maneira de calcular o preço de custo.

Vejamos o tipo – Indústrias com produção própria – Para estas o cálculo se torna relativamente mais fácil; basta conhecer rigorosamente a produção em determinado tempo e dividi-la pelas despesas efetuadas em relação ao tempo. As despesas de fabricação são todas as despesas efetuadas, mais amortização, mais juros, mais matéria prima até a entrega da mercadoria ao departamento comercial que aí deverá incluir as suas despesas de administração, venda, juros, propaganda, etc.

Para o tipo – As que só produzem por encomenda – Para estas o cálculo é mais complicado, porquanto dependem da encomenda, o que as obriga, em certas épocas, ou a pagar extraordinários aos seus operários, ou a admitir novos, ou a demiti-los por falta de trabalho. Para estas o cálculo deve ser feito em cada encomenda e de acordo com o seu movimento no momento. Há as despesas fixas mensais, mais as que são pagas semestralmente, ou anuais que devem ser calculadas em cotas mensais de modo que seja possível dividi-las pelo número de horas de trabalho por mês.

Deve-se ainda calcular o custo-hora de cada operário, inclusive as leis Sociais que recaem sobre as mesmas.

Uma vez determinado o custo-hora de cada operário, deve-se acrescentar ao mesmo a sua cota parte nas despesas fixas por hora de forma que todo o orçamento recaia sobre o tempo-hora gasto pelo operário para produzir determinado artigo.

Além do custo-hora do ou dos operários, deve-se acrescentar o custo da matéria-prima empregada, de forma a se obter o custo do artigo a produzir.

Para o tipo “c” – As que produzem seus próprios artigos e ainda, por encomenda – Para estas, o cálculo é semelhante, em parte, ao tipo “b”: pode-se utilizar o mesmo cálculo para ambas as produções; porém, a diferença é que, na realidade, estas não têm os mesmos atropelos ou paralizações de produção, uma vez que só produzem os seus artigos nas folgas das encomendas ou estas quando lhes faltam aquelas, e, portanto, há mais constância no ritmo da produção. A diferença, ainda existente, é quanto à parte comercial para a venda dos seus produtos e nisto se assemelha ao tipo “a”.

Para o tipo “d” – As que só prestam serviços. Para estas, o cálculo é só conhecer, como no tipo “b”, o custo-hora de cada operário e mais o custo-hora das despesas fixas; porém, existe ainda uma folga que deve ser tomada em consideração e proveniente da falta de encomenda na hora, do tempo gasto pelo operário a ouvir as explicações do mestre sobre o que tem a fazer, do tempo que leva a atender fora do local, etc.

Isto se dá principalmente nas oficinas de reparos ou reparos domiciliares ou socorros em vias públicas (oficinas mecânicas, bombeiros hidráulicos, eletricistas, etc. etc.) e esta folga deverá ser tomada em consideração no ato do orçamento ou quando se apresenta a conta ao cliente, caso não seja possível fazer orçamento prévio.

Para o tipo “e”, as empresas que produzem por encomenda e prestam serviços, trata-se de uma combinação dos tipos “b” e “d”. Geralmente, os operários que produzem não são os mesmos que prestam serviços, portanto, é necessário distribuir de forma equitativa o cálculo-hora de cada um, especialmente no que diz respeito às despesas fixas, de acordo com o volume de cada serviço, a fim de não sobrecarregar um setor em detrimento do outro, o que prejudicaria tanto em termos de custo quanto de concorrência. A divisão das despesas fixas, nesses casos, não deve ser feita com base no número total de operários em ambos os setores, mas sim com base no volume médio de produção de cada um. Para facilitar o cálculo, às vezes é conveniente considerar cada setor como uma empresa diferente, dividindo algumas das despesas fixas pelo espaço ocupado por eles.

Para o tipo “f”, as empresas mistas, que tanto produzem diretamente como por encomenda e também prestam serviços, há semelhanças com os tipos mencionados acima, ou seja, uma combinação do tipo “c” com o tipo “e”. A divisão ideal seria separar a parte da fabricação propriamente dita dos serviços a serem prestados. Como podemos observar, trata-se puramente de uma questão de adaptação das teorias existentes de cálculo de custos às diferentes formas de indústria.

Infelizmente, as empresas que parecem mais complicadas são geralmente aquelas que possuem menos recursos financeiros ou de menor porte, e, portanto, ainda não conseguiram se organizar adequadamente para enfrentar uma crise de concorrência interna ou externa.

As indústrias sem concorrência podem obter grandes lucros por meio de margens exageradas, mas dificilmente conseguirão se manter caso surja uma concorrência bem organizada, a menos que possam enfrentá-la com prejuízos, a fim de aniquilar a concorrente.

Antes de terminar, quero dar uma ideia aproximada de como calcular o custo-hora:
Para os operários, devemos primeiro conhecer o custo do salário individual de cada um deles e a este salário acrescentar todas as obrigações sociais que recaem sobre o mesmo, mais descanso remunerado, mais férias, mais aviso prévio e indenização, mais seguro de acidentes, mais folgas, desperdício de tempo e tempo de limpeza.

Para cada grupo de operários geralmente há um mestre que não produz diretamente e, sim, controla o seu grupo. O salário deste mestre, mais os acréscimos calculados na mesma base de um operário, deve ser dividido proporcionalmente para cada um dos operários sob suas ordens.

Temos então o custo-hora de cada operário.

As despesas fixas, tais como: aluguéis, impostos e taxas, luz, força e telefone, combustível, carretos e transportes, despesas de escritório, empregados de escritórios, almoxarifado, outros que não são propriamente operários de produção, seguros diversos, propaganda, estudos e análises, revisões e teste, amortização da maquinaria, ferramentas, veículos, móveis e utensílios, juros sobre capital, despesas e juros bancários, retiradas dos sócios, reservas, etc., devem ser divididas pelas horas de trabalho do mês, recaindo sobre cada operário ou sobre a produção, de acordo com o tipo de indústria em questão.

Quanto à matéria-prima, esta deve ser calculada pelo seu custo, mais despesas de transporte até o armazém e do armazém até o operário, mais juros sobre o tempo de permanência, mais gastos, desgastes ou deteriorações normais ou anormais, mais seguros etc. Não foi computado o aluguel pois o mesmo pode ser calculado sobre as despesas de fabricação como parte sobre o estoque, isto dependendo da indústria. Também não foi computada a despesa do ou dos empregados encarregados do estoque, pela mesma razão.

Espero que estas simples linhas possam elucidar alguns dos nossos industriais e permitir-lhes que produzam livremente sem receio de prejuízos diretos ou indiretos, por falta de organização adequada.


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Comendador Carlos Guilherme Rheingantz

Por Carlos B. Rabello

Rio Grande do Sul, e principalmente a cidade do Rio Grande, comemoraram em Abril, o centenário do nascimento do Comendador Carlos Guilherme Rheingantz, um dos seus mais dilectos filhos.

Nascido em Pelotas no dia 14 de Abril de 1849, fez os seus primeiros estudos naquela cidade e com apenas 8 anos de idade seguiu, sozinho, para a Alemanha, terra de origem de seu pai, Jacob Rheingantz, fundador da colónia agrícola de S. Lourenço, hoje próspero município gaúcho.

Essa primeira viagem de Carlos Guilherme Rheingantz, em um navio veleiro sem acompanhante, apesar de sua pouca idade, com destino a Hamburgo, já era uma demonstração precoce da força de vontade daquele que mais tarde seria o grande industrial daquele nosso Estado.

Logo após chegar a Hamburgo, matriculou-se no “Curso Professor Scheiden”, onde concluiu o curso em 1865.

Terminados os seus estudos, percorreu quase toda a Alemanha e várias cidades de outros países da Europa, sequioso de ampliar os seus estudos, voltando ao Brasil somente em 1867.

Novamente em Pelotas, inicialmente dedicou-se ao comércio, porém sempre com a ideia fixa de se tornar um industrial.

Em Março de 1873, contraiu matrimônio com Maria Francisca de Sá, filha do Comendador Miguel Tito de Sá, nascido no Rio de Janeiro, porém radicado no Rio Grande, desde há muitos anos.

Em Julho desse mesmo ano, a alma vibrátil de Carlos Guilherme Rheingantz, estimulada pelo seu sogro e grande admirador, dava expansão ao seu grande sonho e fundava a firma Rheingantz & Vater, com o capital de 90 0008000, uma “sociedade em comandita sobre estabelecimento de fábrica de lã, sendo uma nesta cidade do Rio Grande de São Pedro do Sul e outras onde mais convier”.

Faziam parte dessa sociedade, Carlos Guilherme Rheingantz, seu sogro Miguel Tito de Sá e seu grande amigo Hermann Vater, este último de nacionalidade alemã.

Estava assim lançada a primeira fábrica de produtos de lã no Brasil, graças à persistência desse pioneiro inolvidável que foi Carlos Guilherme Rheingantz.

Não faltou quem augurasse um fim próximo para essa indústria, pois o Rio Grande não possuía a matéria-prima necessária e a importação da mesma era muito difícil e dispendiosa.

Poucos anos depois, com o falecimento de seu sogro, foi dissolvida a primitiva firma e, em 11 de Fevereiro de 1884, Carlos Guilherme Rheingantz formou uma nova sociedade em comandita com o capital de 600.000S000 e com a designação de RHEINGANTZ & CIA.
Rheingantz, apesar de todos os tropeços que surgiam, não desanimava e, trabalhando quase as 24 horas do dia, ia vencendo todos os obstáculos. No ano de 1881, adquiriu mais uma fábrica, a “FÁBRICA DE CHAPÉUS PELOTENSE” na cidade de Pelotas, que desde logo progrediu extraordinariamente.

Por decreto de 27 de Março de 1883, o nosso Imperador D. Pedro II conferiu-lhe a “Comenda da Ordem da Rosa”, em virtude de seu fecundo trabalho e por ter sido o pioneiro da indústria da lã no Brasil.

Vendo o rápido progresso que suas indústrias alcançavam, o Comendador Rheingantz resolveu logo depois iniciar também no Rio Grande a indústria de tecidos de algodão, como o fizera com os tecidos de lã.

Em 1888, o capital da firma Rheingantz & Cia. foi aumentado para 1.000.000 de contos, o que na época representava uma verdadeira fortuna.

Sentindo sempre a falta de matéria-prima para suas indústrias lá, o Comendador Rheingantz decidiu, em 1891, transformar a sociedade comanditária em sociedade anônima, com um capital de 5.000.000 de contos e sob a denominação de COMPANHIA UNIÃO FABRIL E PASTORIL S/A, passou a explorar também a produção da própria matéria-prima.

Nesse mesmo ano, um técnico ovino inglês foi contratado e a grande criação de ovelhas foi iniciada, com a compra de enormes rebanhos e vastas terras, além da importação de inúmeros reprodutores de raça pura da Escócia e Inglaterra.

Nessa época, já havia um grande número de operários trabalhando nas indústrias do Comendador Rheingantz e ele, desde o início, se preocupou com o bem-estar de seus auxiliares.

Em 1891, a construção de várias casas foi iniciada, algumas isoladas e outras em blocos, e assim que estavam prontas, eram imediatamente alugadas aos operários por preços ínfimos.

Nesse mesmo ano, a Companhia União Fabril e Pastoril criou a “Sociedade Mutualidade” com o seu quadro social constituído exclusivamente por empregados da empresa, com a finalidade de prestar socorros não só a estes como às pessoas de suas famílias.

Desde então, não pararam mais as obras sociais iniciadas pelo Comendador Rheingantz. Cooperativas de consumo, creches, ambulatórios, assistência médica, farmacêutica e dentária, tudo foi criado para o operariado da empresa, que a essa altura já era superior a mil trabalhadores.

Pugnador extraordinário de novos lares, o comendador destinava todo o lucro das Cooperativas e uma parte também dos da empresa, para um fundo social que se incumbia do enxoval da noiva, variando o valor deste pelo número de anos de trabalho que um dos nubentes tivesse na empresa.

Desde o ano de 1835, o Estado do Rio Grande do Sul vinha sendo sacudido por revoluções, nas quais, como é natural, iniquidades sem par eram perpetradas. Em 1893, mais uma dessas intentonas era declarada e desta vez a empresa do Comendador Rheingantz foi uma das maiores vítimas. Na passagem das forças volantes pelas terras da empresa, foram os seus rebanhos completamente dizimados, não escapando nem mesmo os finos reprodutores importados. 

Esse fato desagradou tanto ao técnico inglês que, sem atender mais ninguém, abandonou o emprego e retornou para a Inglaterra.

Para nós brasileiros que acompanhamos sempre o progresso da indústria em nosso país, um fato como esse é muito doloroso, pois naquela época, a produção lá nas propriedades da empresa era bastante animadora e se tal fato não tivesse ocorrido, era bem possível que o município do Rio Grande, hoje em dia, produzisse o suficiente para o nosso consumo.

Com esse primeiro e único fracasso, a empresa retirou, em 1895, a palavra “Pastoril” de seu título e passou a operar com um capital de 3.500.000:000000.

Outro qualquer sentiria o impacto causado por tal insucesso. No entanto, Carlos Guilherme Rheingantz não se deixava abater e, já em 1896, resolveu instalar no próprio Rio de Janeiro uma fábrica de tecidos de algodão.

Para esse fim, fez seguir para a Capital Federal o seu irmão Engenheiro Luiz Valentin Rheingantz que em companhia de seu filho mais velho, engenheiro também, Sr. Carlos Frederico, deviam instalar em um dos subúrbios próximos, a primeira das fábricas da Companhia União Fabril, fora do Rio Grande do Sul.

Infelizmente por essa ocasião, grassava no Distrito Federal, a febre amarela e ambos os engenheiros foram vitimados antes de realizarem o seu desideratum.

Estava escrito, entretanto, que esse homem dinâmico não poderia parar em seus empreendimentos e já no ano seguinte, contratava um técnico alemão para estudar nas terras gaúchas a cultura do trigo, como já se vinha fazendo nas Repúblicas vizinhas.

As terras do município de D. Pedrito foram as escolhidas e ali lançadas as primeiras sementes desse cereal tão útil ao homem.

O nome do Comendador Carlos Guilherme Rheingantz já então era pronunciado com respeito e veneração, e não era de admirar que o Dr. Assis Brasil viesse especialmente convidar esse vulto do Rio Grande, inconfundível, para aceitar a presidência do Estado. Esse pedido foi, entretanto, recusado por aversão à política.

Como se já não bastasse o que havia feito pela indústria de sua pátria, em 1904 o Comendador Rheingantz iniciava mais uma das suas grandes conquistas, instalando a primeira fiação penteada no Brasil, possibilitando assim que nossa pátria produzisse casemiras e outros produtos finos.

Apesar de todo o seu trabalho dinâmico, Carlos Rheingantz ainda encontrava tempo para viajar, visitando todos os países do mundo onde a indústria manifestasse progresso, trazendo para o Brasil os ensinamentos que recebia.

Quando, em 1909, encontrava-se no Rio de Janeiro, preparando-se para uma dessas viagens, foi surpreendido pela morte, com a idade de 60 anos.

Não foi a cidade do Rio Grande que se viu privada de um grande amigo; não foi o Rio Grande que viu desaparecer um filho querido; foi o Brasil que sentiu a grande dor de perder um devotado e entusiasta de suas indústrias, o pioneiro de suas indústrias de lã.

Ao fazer a biografia desse grande brasileiro, sinto verdadeiro entusiasmo por me ser possível retratar um homem que faz jus à admiração de todos nós brasileiros que desejamos para o nosso querido Brasil dias de grande progresso.

Esse pioneiro, tal como o seu venerando pai, o fundador das colônias agrícolas de S. Lourenço, teve um grande consolo: viu a sua grande obra vencer e progredir; viu o seu Brasil tão amado produzir lã e seus tecidos tão necessários para a gente pobre e friorenta de suas coxilhas; viu a sua grande pátria exportar os produtos de lá, antes importados.

A Companhia União Fabril, aí está. Cada vez maior, cada vez aprimorando mais os seus artigos que são consumidos em todo o Brasil e no estrangeiro.

À testa de seus destinos, encontramos hoje a figura de um Paulo Rheingantz, um dos filhos do Comendador Rheingantz. Outros filhos, como Dr. Gustavo Rheingantz e Dr. Adolfo Lourenço Rheingantz, também empregam no Rio de Janeiro e em S. Paulo as suas atividades em prol da grande Companhia, criada pelo Comendador.

Netos da veneranda figura, continuam sua obra imorredoura, como Dr. João Miranda Rheingantz e Dr. Oscar Osorio Rheingantz, que presentemente estão na gerência de várias seções.

E toda uma população, como a da cidade do Rio Grande, ouvirá através dos anos e séculos falar de um brasileiro que amou devotadamente a sua pátria e que naturalmente será chamado: O PIONEIRO DA INDÚSTRIA DE LÃ NO BRASIL.


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Em Benefício Da Caixa De Socorro

Dentro do caos de nossa época, abalada por terríveis convulsões sociais, que estremecem e derruem sistemas que pareciam, aos olhos das gerações passadas, feitos de granito, destinados a durar eternamente, caos ensombrecido por nuvens de guerras e revoluções, há súbitas explosões de luz, que enchem de esperança os que tudo esperam do porvir.

Nosso tempo, apesar do surto de ideias socialistas, é, paradoxalmente, marcado por uma exacerbação cruelíssima do individualismo e da indiferença. A velha concepção do início da sociedade de Hobbes transforma-se em realidade aos nossos olhos estarrecidos: é a guerra de todos contra todos; por uma curiosa metamorfose, escapou-se da natureza e fez sua entrada triunfal dentro da civilização em decadência. Em vão erguem-se vozes autorizadas, conclamando os povos para um caminho de concórdia e de solidariedade. A indiferença para com o próximo tornou-se regra quase geral. Em meio a esse estado de coisas, é com a máxima alegria que contemplamos os rasgos soberbos de solidariedade e amizade demonstrados por grupos ou indivíduos para com o próximo. Isto nos mostra que a matéria-prima ainda não foi corrompida, que o embasamento continua intacto e não foi poluído, significa, por fim, que nem tudo está perdido. Temos esperanças de poder construir um mundo melhor sobre os destroços da civilização atual.

Uma das mais espontâneas e luminosas explosões de cooperação e amizade tivemos há pouco, no dia dois de abril. Merece ser relembrada, como exemplo do que dissemos acima.

A nossa Caixa de Socorro, bem conhecida de todos os que trabalham na Organização Lowndes, destinada a socorrer e ajudar os componentes da Organização que estivessem em graves dificuldades, sem recursos para vencê-las, viu-se às voltas com falta de meios para dar cumprimento às suas nobres finalidades. Ao terem conhecimento, os funcionários das sociedades procuraram socorrê-la angariando auxílio financeiro por meio de leilões. Não foi suficiente esta esplêndida ajuda. Tornou-se necessário pensar em algo mais pronto e de maior rendimento. Foi quando surgiu a ideia de se organizar um “show”. Plenamente vitoriosa a lembrança, não se pouparam sacrifícios para sua execução. Os obstáculos encontrados foram vencidos, graças à perseverança e entusiasmo demonstrados por todos. Inteiramente desajustados, com seus próprios recursos, os funcionários da Organização Lowndes deram magnífica prova de amor ao próximo, de espírito de sacrifício e abnegação, coisas tão difíceis de se encontrar hoje em dia.

A festa, concorridíssima, não deixou nada a desejar, seja pelo lado da arte, seja encarando-a no plano da técnica. Os recursos eram limitados, assim como o tempo de ensaio. No entanto, o espetáculo agradou a todos pela sua simplicidade, pela sua beleza e pela sua nobre finalidade, além de ter pleno êxito financeiro. A Caixa de Socorro, vivificada, tonificada pela contribuição monetária, pôde prosseguir em sua tarefa humanitária, abrigando à sua sombra novos necessitados do seu auxílio. A velha e sempre nova fábula do feixe de varas continua a demonstrar o seu acerto.

Uma coletividade unida consegue enfrentar perigos que seus membros, isoladamente, não poderiam vencer. Que os funcionários desta Organização tenham sempre presente esta verdade e norteiam sempre suas atividades em função dela, são os nossos mais sinceros votos.

Na festa em apreço, que teve lugar no 12º andar do Edifício Lowndes, tomaram parte os seguintes artistas e conjuntos: Bando da Lua, Carlos Augusto Carneiro, Danton Silveira, Egydio Castiglione, Enio Barroso de Abreu, Geraldo Carneiro, Hilda Muniz, Izabel Cardoso, José Gomes Neto, Lizete Moraes, Luzia Silva, Maria A. de Souza Figueiredo, Mário da Silva Brandão, Mauricio de Figueiredo, Mitzi Araujo, Nair Cardoso, Paulo Guapiassú, Regina Célia Fon- tes, Sérgio Castiglione, Terezinha Martuscelli, Walter Menezes e Zita Maria Costa. A supervisão geral esteve a cargo de Celeste Figueira Leite e Ênio Barroso de Abreu.


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Moedas Do Brasil

O Instituto Histórico de São Paulo acaba de publicar o 1º volume de “Moedas do Brasil” de Álvaro de Salles Oliveira. Falecido ao terminar seu monumental trabalho, encarregaram-se os seus companheiros da Sociedade Numismática Brasileira de prepará-lo
para publicação.

A obra interessa ao historiador, ao economista e ao numismata. O 1º capítulo trata das ocorrências do ouro no Brasil, historiando-as, descrevendo os métodos antigos de mineração, estudando, com ampla documentação, a legislação colonial das minas e apresentando a produção de ouro mundial e brasileira.

O 2º capítulo é dedicado às abreviaturas e convenções usualmente empregadas na cunhagem das moedas. O 3º apresenta tabelas utilíssimas dos pesos antigos e modernos das moedas brasileiras, seus títulos e as propriedades dos metais utilizados. O 4º é consagrado ao estudo das ligas metálicas. O 5º capítulo, de especial importância, constitui um desenvolvido estudo do meio circulante, com exame das noções fundamentais sobre a moeda, a moeda metálica e a moeda de papel.

A enriquecer a obra vêm dois Prefácios: um de Pandiá Calógeras, que o escreveu pouco antes de falecer; outro do eminente mestre das nossas letras históricas, Prof. Affonso de E. Taunay.

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Lowndes

Administradora Condomonial no Rio de Janeiro

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