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Noticiário Lowndes – Nº 21

1 de março de 1949
É fundamental destacar que as informações contidas em nosso arquivo histórico são uma expressão do contexto da época em que foram produzidas. Elas não necessariamente refletem as opiniões ou valores atuais da nossa empresa. À medida que progredimos e nos ajustamos às mudanças em nosso entorno, nossas visões e princípios também podem evoluir.

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Segurança, a Aspiração Ideal

Todos os animais, do mais forte ao mais fraco, do mais sagaz ao mais primitivo, preocupam-se demasiado com a sensação de segurança.

O instinto apura-se para a auto-defesa e à medida que o animal evolui, a esse acresce o faro, a agilidade, a “camuflage” e tantas outras armas que a natureza cria para segurança e defesa dos seres mais fracos.

Para os mais fortes existem, aliadas a essas qualidades, as presas, as garras, a ferocidade.
Em busca da segurança, todos os animais, nos primórdios de sua vida, procuram o amparo de seus pais para que eles os defendam com suas armas.

É curioso observar que a vida ensinou a muitos o sentido de segurança coletiva.

O homem, como animal que é, não pôde fugir à regra. Nenhum outro ser, tanto quanto ele, tem procurado a segurança.

Em época primitiva, quando ainda não possuía a acurada inteligência de que hoje faz tanto alarde, procedia como qualquer outro animal: escondia-se, fugia dos fortes e atacava os fracos.

Mais tarde aprendeu que dois podem mais do que um, e que, quanto mais indivíduos prontos para combate possuíssem uma tribo, mais forte essa se tornava, e o instinto de segurança coletiva empolgou-o.

Todas as tribos possuíam um chefe que, se não era o mais forte, era o mais habilidoso na caça ou na guerra, cuja principal responsabilidade era garantir a segurança de seus seguidores. Sempre buscando evitar a insegurança, os menos capazes se aproximavam dos mais capazes e lhes pagavam tributos em troca de proteção.

Com o passar dos séculos, o progresso trouxe armas para o ataque, fortalezas para a defesa e leis para o bem-estar. No entanto, as armas não conseguiam proteger o homem contra as eventualidades e ele ainda se sentia inseguro.

Ele então procurou aqueles mais abastados pela fortuna para proteger seus bens, empresas e negócios. Surgiu assim um primitivo senso de previdência, mas a um custo muito alto, que muitas vezes empobrecia o rico, sem realmente satisfazer a ânsia de segurança do indivíduo.

Lembrando-se de que a coletividade já o havia ajudado a superar dificuldades sérias em épocas anteriores, e que é melhor todos cooperarem com um pouco de esforço para ajudar um indivíduo em momentos difíceis do que abandoná-lo à sua própria sorte, surgiu o mutualismo. 

À procura de segurança, o mutualismo e o cálculo das probabilidades criaram o seguro.
De começo protegendo mercadorias, resultados de arriscadas viagens, o seguro foi se desenvolvendo dentro de bases técnicas, para hoje acautelar todas as espécies de bens contra uma infinidade de riscos, alcançando também a possibilidade de diminuir a infelicidade que atinge uma família, com a perda sempre inesperada da vida do encarregado de sua manutenção.

Não parou aí a vontade do homem em se proteger contra as eventualidades. Depois dos bens. Depois da vida, criou o recurso, através da apólice de Lucros Cessantes, de proteger o lucro de seu trabalho, o ordenado de seus dependentes, enfim toda a espécie de margem que lhe deixava o negócio.

A Organização Lowndes, pioneira no Brasil de algumas classes de seguros, orgulha-se do esforço que tem feito em prol da indústria seguradora em nosso país, por intermédio das Cias. sob sua orientação. 


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A Ciência Na 2ª Grande Guerra

Comte. Luis Clovis de Oliveira

O receptor do Radar, vendo-se a tela luminosa onde são projetados os obstáculos encontrados pela onda emitida.

A II Guerra Mundial foi a primeira guerra na história da humanidade a ser decisivamente afetada por armas desconhecidas, quando romperam as hostilidades. Estas palavras são de Vannevar Bush, presidente da Carnegie Institution, engenheiro eletricista e primeiro presidente da National Defense Research Committee.

Para que possamos compreender a significação dessas palavras, mister se torna uma ligeira exposição sobre a maneira pela qual foram conduzidas as guerras do passado e o que se verificou, nesse particular, na última conflagração. Nas guerras em que os povos estiveram empenhados, no passado, inclusive a de 1914-1918, os engenhos de destruição e os meios de defesa utilizados pelos combatentes eram sobejamente conhecidos, havendo, pois, doutrina firmada quanto ao seu emprego, isto é, os adversários, ao se defrontarem nos campos de batalha, já tinham pré-estabelecida a sua tática de combate, e a estratégia adotada, baseada no “Plano Nacional de Guerra”, pouca ou nenhuma modificação sofria no decurso das campanhas do passado, salvo as decorrentes dos próprios azares da guerra.

A história ensinara que as armas surgidas no decorrer de uma guerra não alcançavam desenvolvimento suficiente para serem decisivas na mesma. Podemos citar, dentre as armas mais recentes, o “tanque”, surgido na I Grande Guerra, e que pouco pôde contribuir naquela ocasião; o avião, de limitado emprego em 1914-1918, como o “tanque”, só atingiu uma eficiência apreciável na guerra de 1939-1945; a metralhadora, os canhões de tiro rápido e outras tantas armas poderiam formar ao lado das duas primeiras citadas. Entretanto, não foi apenas graças a essas armas que as Nações Unidas levaram de vencida seus oponentes. Foram as bombas voadoras, os projéteis-foguete, a bomba atômica, o radar, a “luz negra” e tantos outros engenhos que decidiram da vitória final. Todos esses meios de que o homem lançou mão eram praticamente desconhecidos ao ser declarada a guerra.

Os Estados Unidos, por ocasião da guerra civil de 1863, que assolou seu território, sentiram a necessidade de possuir um órgão capaz de centralizar todos os esforços no campo da ciência, para acompanhar de perto o desenvolvimento da luta, melhorando os meios ofensivos e defensivos, sendo criada, com tal objetivo, a Academia Nacional de Ciências.

Em face das crescentes necessidades, o presidente Wilson, durante a I Grande Guerra, ordenou à Academia Nacional de Ciências que estabelecesse um Conselho Nacional de Pesquisas com caráter permanente. O referido Conselho, que foi constituído por homens de renome em suas atividades, era organizado em “divisões”, uma para cada especialidade e, assim, existiam as seguintes:

a) de Ciências Físicas;
b) de Pesquisas Mecânicas e Industriais;
c) de Química e Química Tecnológica;
d) de Ciências Médicas;
e) de Biologia, e muitas outras. 

Quando o mundo inteiro foi sacudido pela surpreendente “blitzkrieg” dos exércitos de Hitler e as esperanças na “Linha Maginot” ruíram por terra, os norte-americanos compreenderam que a chamada “phony war” tinha sido apenas levada a efeito para que os alemães pudessem ganhar tempo, a fim de pôr em funcionamento toda a sua máquina de guerra nos moldes do século XX, isto é, ter os seus exércitos motorizados, sua aviação capaz de manter a superioridade nos céus da Europa e a sua marinha de guerra à altura de fazer uma guerra de desgaste contra a velha Albion, cujo poder marítimo jamais pudera igualar. E assim, todos compreenderam que uma nova espécie de guerra surgira no cenário do mundo, que a ciência e as possibilidades industriais do país deveriam contribuir eficientemente para que suas forças armadas pudessem de pronto manter seu pessoal e os recursos necessários, sempre à altura de constituir uma ameaça contínua aos seus prováveis inimigos. Dado o panorama geral das armas já então em uso – somente um grande potencial industrial, assistido de perto pelos cientistas, poderia manter uma força armada em alto grau de eficiência. Daí a estreita colaboração entre os homens responsáveis pelos planos de guerra e os cientistas, e o fato de ter sido esta bem diferente das anteriores.

Os profs. Massey e Lawrence manobrando ciclotron da Universidade da Califórnia durante os estudos para o preparo da bomba atômica.

Para que fosse possível uma tal cooperação, o Conselho Nacional de Defesa, que havia sido criado em 1916, destinado a coordenar as indústrias e os recursos para a segurança e o bem-estar nacionais, e que tinha como membros os Secretários da Marinha, Guerra, Interior, Agricultura, Comércio e Trabalho, foi autorizado a estabelecer órgãos para o assistir de perto em assuntos especializados e também a criar comissões. Assim surgiu, a 27 de junho de 1940, o órgão que passou a ser conhecido simplesmente pelas suas iniciais NDRC, que significam: National Defense Research Committee.

Este Conselho contou com os maiores cientistas e personalidades de destaque; seu presidente foi o Sr. Vannevar Bush, a que já nos referimos, e dentre os seus membros destacamos Karl Taylor Compton, presidente do Massachusetts Institute of Technology, James Bryant Conant, presidente da Universidade de Harvard, Frank Baldwin Jewett, presidente da Academia Nacional de Ciências e do Bell Telephone Laboratories. Um almirante e um general, representantes dos Ministérios militares, completavam o dito Conselho.

Observou-se que a característica marcante das atividades desse grupo de cientistas e militares era o “senso de urgência” de que estavam imbuídos e que o centro de todas as suas atenções era a necessidade de aperfeiçoar, o mais rapidamente possível, as armas em uso e idealizar e desenvolver novas armas.

Um outro órgão, o National Advisory Committee for Aeronautics, encarregava-se dos assuntos pertinentes à aeronáutica, sendo conhecido pelas iniciais NACA.

Mais tarde, em 28 de junho de 1941, foi criado um novo organismo, o Office of Scientific Research and Development (OSRD), com o objetivo de assegurar a continuidade e desenvolver pesquisas científicas e médicas relacionadas à defesa nacional, mobilização de pessoal cientista, coordenação de planos de pesquisas científicas e outros.

Entretanto, não foi apenas nos laboratórios, nas pesquisas na retaguarda, que os cientistas colaboraram e acompanharam a luta; foi também nas linhas de frente que um grande número deles deu o máximo de seus esforços, inclusive a própria vida. Os americanos chamavam de “combat scientists”, ou seja, cientistas combatentes, aqueles que faziam parte do Office of Field Service (OFS). 

A esses cérebros privilegiados deve-se uma série de armas e meios de combate que decidiram a vitória final, como seja: o radar, tal como o conhecemos hoje em dia; o ASDIC, aparelho destinado a descobrir o submarino imerso que pôs fim à campanha de desgaste levada a efeito contra o poder marítimo das Nações Unidas pelos submarinos do Eixo; o “degaussing”, destinado a neutralizar o campo magnético dos navios, permitindo que os mesmos passem incólumes pelos campos de minas magnéticas; os projéteis-foguete e suas diversas modalidades para emprego pelas forças de terra, mar e ar; as espoletas VT, que fazem com que as granadas dos canhões antiaéreos possam explodir nas proximidades do alvo, dispensando o impacto direto, graças às quais, em parte, foi possível reduzir a quase nada a arrogante “Luftwaffe”; a chamada “luz negra” – uma das aplicações dos raios infravermelhos que permitiu combater à noite, em plena selva das ilhas do Pacífico, sem que o inimigo suspeitasse sequer que estava sendo visto, que possibilitou aos caminhões trafegar com segurança durante a noite e aos navios se comunicarem entre si, sem que a mínima parcela de luz fosse visível; as pinturas especiais aplicadas aos aviões, que com elas podiam atravessar os céus inimigos, varridos por feixes de holofotes, sem serem vistos – a “black widow paint”; as contramedidas radar; as bombas voadoras e, finalmente, a bomba atômica. Muitas outras descobertas e armas poderíamos acrescentar e outras ainda existem, mas que o estado de inquietação em que vive a humanidade não permite sejam divulgadas. Em resumo: jamais a arte da guerra contou com tão estreita colaboração da ciência.

Foto aérea da explosão atómica submarina em Bikini, que destruiu vários navios de guerra

Esquema geral do mecanismo da bomba-foguete, uma das novas armas da última guerra


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Você É Mais Forte Do Que Pensa

Dr. James F. Bender – Diretor do National Institute for Human Relations

É interessante saber que o corpo humano jamais descansa por completo e que os músculos do homem não são os mais fortes

O corpo humano é mais forte do que, em geral, se imagina. Os ligamentos pélvicos que unem o tronco às pernas são tão fortes que podem aguentar uma carga de cerca de 500 quilos. A articulação do joelho é a mais forte das articulações; a do cotovelo, a mais flexível.

O número de ossos varia com os indivíduos, sendo em média 222. O mais forte de todos é o perônio que forma a canela, o qual pode resistir a uma carga de 1.500 quilos. Isso quer dizer que a canela do homem pode aguentar um palanque com uma orquestra de 20 músicos.

Todos os mamíferos, apenas com duas exceções, têm sete vértebras cervicais. Assim, o menor dos camundongos é, nesse particular, igual à girafa, pois tem o mesmo número de ossos no pescoço. A qualidade dos ossos desses animais é surpreendentemente igual, em particular no que diz respeito à sua força relativa. Os ossos são muito mais flexíveis do que se pensa. Por exemplo, o crânio de uma pessoa viva pode sofrer um decréscimo de cerca de 10% na largura antes de se fraturar.

O tônus orgânico, ou tensão muscular, é controlado por um núcleo vermelho existente no cérebro. Contrariamente à crença popular, o corpo nunca descansa totalmente durante a vida, nem mesmo durante um sono profundo ou debaixo da ação do hipnotismo. O tônus eleva-se com o descanso. A pessoa cansada apresenta uma fisionomia oprimida e uma postura abatida. Após um bom descanso, o tônus muscular é recobrado. Enquanto está vivo, o homem tem 3 metros de intestinos; após a morte, com o desaparecimento do tônus muscular, eles esticam-se, alcançando o comprimento de 9 metros.

O homem tem 639 músculos. Uma polegada quadrada de massa muscular pode levantar de 25 a 65 quilos, dependendo do treinamento do indivíduo. Os músculos mais fortes do homem são os masseter, ou músculos da mandíbula. Sua força é suficiente para levantar mais do que o dobro do peso do indivíduo. A força do músculo uterino, no momento do parto, é maior do que a força de qualquer outro músculo masculino ou feminino em qualquer circunstância.

As coordenações musculares podem ser feitas rapidamente. Um violinista executa 10 movimentos por segundo. Segundo o Dr. Fritz Kahn, um pianista, ao tocar a “Minute Waltz”, deve pressionar 740 teclas com a mão direita em um minuto, algo que um “virtuoso” consegue fazer em 35 segundos. Os menores músculos são os dos órgãos da articulação da palavra. Esses músculos realizam cerca de 25 movimentos por segundo, e apesar disso estão longe da rapidez dos músculos das asas da mosca comum, que as agita 330 vezes por segundo.

Um dos músculos que trabalha mais intensamente é o diafragma, “o fole” que enche e esvazia os pulmões. Começa a funcionar com o primeiro grito que a criança dá ao nascer e nunca para de trabalhar até a hora da morte. Durante 70 anos, ele realiza aproximadamente meio bilhão de movimentos.

Através do controle do diafragma, mergulhadores treinados podem permanecer debaixo d’água por quatro minutos e meio.

O corpo humano é capaz de resistir à invasão de um número incalculável de partículas microscópicas, graças ao nariz. Cada hausto de ar fresco suburbano que tomamos contém 125 milhões de partículas de poeira. O ar da cidade contém um índice maior de poeira. Ao nível da cabeça de um adulto, há cerca de 5 bilhões de partículas em cada hausto. Ao nível da cabeça de uma criança, há 50 bilhões.

No decorrer de toda uma vida, o nariz filtra cerca de 20 quilos de poeira, evitando que ela alcance os pulmões, graças à ação de milhares de cílios existentes em sua parte interna. Os operários de moinhos, pedreiras e outras indústrias que produzem poeiras inalam aproximadamente 50 quilos de partículas durante a vida.

Os vasos capilares do corpo humano são tão numerosos que desafiam uma contagem. Para se ter ideia de sua pequenez, basta dizer que um tubo de metal do tamanho de uma agulha de costura pode conter cerca de um milhar. Cinquenta vezes mais finos do que um cabelo, eles têm cerca de 1⁄2 milímetro de comprimento; emendados uns nos outros, poderiam cingir o equador cerca de 50 vezes.

Através desses capilares, veias e artérias correm aproximadamente 5 litros de sangue, compostos por 25 bilhões de células. Alguém disse que se isso fosse transformado em um novelo de lã, seria suficiente para tecer um tapete de cerca de 4.000 metros quadrados.

Graças aos ligamentos, ossos, músculos, capilares e sangue, nós damos, em média, 20.000 passos por dia, ou seja, meio bilhão quando alcançamos 80 anos, passos bastantes para dar a volta ao mundo seis vezes. E tal coisa requer um corpo bem resistente, não haja dúvida.


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O Descobrimento Do Mundo: Portugal E O Infante D. Henrique

A. M. Braz da Silva
(Para o Noticiário Lowndes)

O Infante D. Henrique. Conforme o retrato do painel do Infante de Nuno Gonçalves, obra da época. (Da “História da Descoberta e Colonização do Brasil”)

A famosa Escola de Sagres, espírito clarividente dos navegadores, ficou na história dos povos como o farol que iluminava oceanos.

D. Henrique, o infante-navegador, por feliz concorrência de virtudes sem preço, transfigurou o contorno das terras e dos mares e dilatou conscientemente as fronteiras já clássicas do mundo.

Ao iniciar-se o século XV, as repúblicas italianas dominavam os setores econômicos da Europa. Basta dizer que Veneza possuía mais de 3.000 navios de carga e 300 de guerra, num total de 25.000 marinheiros. Os estaleiros venezianos lançavam ao mar 45 galeras a cada ano!

Essa força naval mantinha o domínio absoluto do Mediterrâneo. Em suas mãos estavam as chaves do Bósforo e dos Dardanelos. Turcos e Árabes firmavam, sucessivamente, vantajosos tratados comerciais com a pujante república.

Portugal esforçava-se por conseguir uma ordem civil que o levasse à melhor situação política e financeira.

Mal terminada a batalha de Aljubarrota, resolveu o Mestre de Avis enviar uma embaixada a Londres, a fim de enfatizar ao Duque de Lencastre e ao soberano a significação de uma vitória tão ampla. Na Inglaterra, o entusiasmo por Portugal era incomum. Depois de várias negociações, ficou acertado o encontro do Duque de Lencastre com D. João I.

Ao se avistarem em “Ponte do Mouro”, entre Monção e Melgaço, abraçaram-se alegremente, “fazendo mesuras com grande prazer e ledice, estiveram um pouco falando e daí passaram-se aquém do rio, onde El-Rei tinha suas tendas postas e ali se desarmaram”.

Então, na tenda de Aljubarrota, Lencastre e D. João lançaram os fundamentos da aliança luso-britânica tão firme e tão sincera. Combinaram também o casamento de D. João com D. Filipa, filha do Duque de Lencastre. Só a 2 de fevereiro de 1387, na Sé da cidade do Porto, foi possível realizar a cerimónia nupcial tão desejada.

Casal feliz e modelo. A Corte de D. João I, sob a tutela moral de D. Filipa de Lencastre, transformou-se no mais carinhoso e austero ambiente familiar. Foi sempre um exemplo de virtudes e amor.

D. Henrique nasceu no Porto, a 4 de março de 1394, e foi recebido com festejos ruidosos. No domingo seguinte batizou-o o Bispo de Viseu, D. João Homem, santa pessoa e amigo do soberano.

Nau portuguesa da época das descobertas. Aquarela de Roque Gameiro sobre documentos de época. (Da “História da Descoberta e Colonização do Brasil”)

Não nos detenhamos em pesquisar a infância de D. Henrique. Os historiadores registram o esmero da educação que lhe foi proporcionada, ao lado dos irmãos, sob a orientação de D. Lopo, Grão-Mestre da Ordem de Cristo, conselheiro ponderado C sábio; preeminente nos campos de luta pela coragem, destreza e valentia. Sua responsabilidade era a de formar, de certo modo, a “ínclita geração’ de altos infantes”.

Depois da morte do pai, a figura do Infante D. Henrique centralizou as atenções do reino.

Todas as suas atividades denotavam espírito superior, de convicções inabaláveis e levantados propósitos.

Fisicamente podemos conhecê-lo através de Zurara: “Houve a estatura do corpo em boa grandeza e foi homem de carnadura grossa e de largos e fortes membros”. A sua cor era branca e corada, em que bem mostrava a compleição dos humores”, “mas, por continuação do trabalho, por tempo se tornou de outra forma.” Mas não foi a força física que o notabilizou e sim “a curiosidade científica e a estranha força moral que definia seu caráter”. “Abstêmio e casto, muita pequena parte de sua idade bebeu vinho; luxúria nem avareza, nunca em seu peito houveram repouso”, tendo passado toda a vida “em limpa castidade, e assim a virgem o recebeu a terra”.

“Mais frade do que soldado, grão- mestre da Ordem de Cristo, cujo con- vento forte de Tomar, outrora casa dos Templários, habitou muitos anos, oscilou entre os trabalhos da guerra, primeira preocupação de sua mocidade, e a organização das viagens descobridoras a que se entregou, afinal, de corpo e alma,” eis o que menciona Pedro Calmon.

Segundo as crônicas antigas, Dom Henrique assemelhava-se aos fenícios, naquele eterno sonho de ilha em ilha, na ansiedade de conhecer e prosseguir. Estudava dia e noite, dedicava-se integralmente a longas meditações e a pesquisas científicas.

A conquista de Ceuta é o ponto de partida para a execução de um vastíssimo e calculado programa. Está claro que a obtenção de bases militares e navais na África do Norte permitiria o acesso ao continente negro e o provável extermínio do islamismo.

Havia ainda o secreto desejo de explorar as costas ocidentais da África lendária e, por fim, alcançar o reino de Preste João, defensor da religião simbolizada na cruz das caravelas.

Podemos dividir os trabalhos do Infante em três períodos distintos: 1º Antes da conquista de Ceuta; 2º Dessa data até a passagem do Bojador; 3º Residência no Algarve.

Veremos, no próximo número desta revista, como se desenrolou a vida desse gênio navegador, dínamo infalível dos descobrimentos marítimos, criador da mística de Sagres e da página mais vibrante da história de Portugal.

Lisboa no século XVI, quando do apogeu, após as descobertas. (Gravura da edição latina de obra de Hans Staden sobre o Brasil, 1592)


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Importância Da Mastigação Normal…

DR. DAVID KLANG (Cirurgião-dentista)

Infelizmente, tem-se dado pouca importância tanto pelos clínicos como pelos pacientes à digestão bucal e, quando esta é observada e analisada, essas observações recaem somente sobre os fenômenos químicos e físicos que nela se processam, sem dar qualquer importância ao complicadíssimo processo mecânico da função mastigatória propriamente dita. Podemos chamar de função mastigatória à capacidade individual de trituração dos alimentos. Como pode o indivíduo ter a digestão perfeita sem os necessários dentes, faltando às vezes, como observamos diariamente em nossa clínica, mais da metade do normal? Qual o resultado disso?

Basta olharmos para a fisionomia do indivíduo e ela imediatamente nos dirá se há deficiência de dentes ou quaisquer tratamentos a serem feitos devido ao aspecto que perturba a estética proveniente do mau aproveitamento dos alimentos ingeridos (subnutrição, atrofias musculares faciais, etc.), refletindo isso sobre o resto do organismo!

É possível observarmos as experiências de Von Friederick sobre o efeito da má ingestão de alimentos sobre o estômago, fígado, etc.

É mister, pois, um tratamento profilático bucal, pois exerce notável influência sobre a saúde e aspecto do paciente.


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Economia De Guerra

A. C. Raja Gabaglia (Capitão de Fragata)

Algumas considerações sobre a mobilização industrial

A adaptação da indústria à satisfação das necessidades de guerra constitui a política de produção e pode se processar por um dos dois sistemas opostos, o de natureza livre, seja o que se desenvolve pelos meios comuns de estímulo à produção, e o de monopólio, isto é, o que é exercido pela ação estatal.

E manifesta a crítica desfavorável aos dois sistemas. Se o primeiro não atende às exigências numerosas e urgentes, oriundas da situação criada pela guerra, o segundo, sob o controle do Estado, traduz-se numa produção de rendimento baixo, agravada por um excesso de burocratização.

A mobilização industrial, visando à efetivação do esforço total do Estado na perseguição da vitória, não só abrange os instrumentos e utensílios da produção, os capitais, a mão de obra, mas a própria organização da produção, as empresas como um todo, subordinadas ao serviço da produção de guerra.

A guerra moderna não se apoia apenas sobre concepções militares. Além dos planos de mobilização e emprego de potencial humano, ela estabelece planos de mobilização da opinião pública e de mobilização da economia nacional.

Escreveu, em 1944, o Almirante Ernest J. King, que, como esforço nacional, a guerra mostrou que todos os empreendimentos militares dependem, por completo, do apoio total do Estado nas esferas da organização da produção, das finanças e do moral.

A organização industrial de guerra obriga a adoção de reformas, racionalizações e concentrações que permitam assegurar a maior produtividade imediata. 

A mobilização industrial consiste na preparação detalhada de um plano, cuja aplicação é feita no dia da mobilização geral, ou seja, desde o começo das hostilidades. Assim, nos Estados de forma democrática, regidos pela economia livre, e os Estados Unidos que são, nesse sentido, o melhor mestre, foram vencedores na II Guerra Mundial. Parece, contudo, de utilidade alguns comentários a respeito.

As novas formas de luta concederam a todos os problemas que se relacionam com a indústria bélica uma importância fundamental. Esta atingiu um grau de tal ordem que os mais destacados chefes militares manifestam a necessidade de incluir a preparação industrial na militar, de modo que constitua parte integrante da mobilização defensiva dos Estados.

A ausência de uma ação coordenada entre as fábricas militares e as civis, com o fim de obter os rendimentos desejados, foi, como acentuou o General Eisenhower, a falta primordial durante os anos de paz. Esta questão que assumiu, em certos momentos, caráter grave, teve sua origem no isolamento em que se mantiveram as fabricações militares, ocasionado pelo falso conceito de que as mesmas podiam satisfazer os abastecimentos que o desenvolvimento do conflito reclamasse.

Os fatos e o correr do tempo demonstraram que os problemas do material têm alguns aspectos semelhantes aos do pessoal. Assim como o exército permanente desempenha o papel de núcleo sobre o qual se mobiliza o resto do potencial humano, as fábricas militares desempenham função igual com relação ao restante da indústria do país. Se as forças armadas mantêm estreitas relações com o pessoal da reserva que, em suma, constitui a massa de combatentes, as fabricações militares devem proceder igualmente em relação às civis, para que as ideias construtivas sejam comuns, os processos de trabalho semelhantes e os técnicos e operários adquiram igual experiência.

Outro inconveniente que se evidenciou traduziu-se na deficiente distribuição dos materiais, devido à rivalidade das instituições armadas e entre estas e as empresas particulares. Cada uma tratou de se assegurar dos elementos que lhe faziam falta sem preocupar-se das necessidades das demais. Daí a posse por parte de algumas de consideráveis excedentes, enquanto outras paralisavam o trabalho por falta do mesmo produto.

A mobilização industrial apresenta, pois, aspectos complexos que, se não forem considerados devidamente e com caráter prático em tempo normal, podem provocar graves transtornos quando da declaração do estado de guerra e durante o conflito.


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Secção De Arquitetura: Solidez – Comodidade – Beleza

Américo R. Campello, Arquiteto

Magnífico exemplo de estilo bem adaptado à paisagem e ao material empregado. Arquiteto: George Howe, 1939.

Com o presente artigo, iniciamos uma seção de arquitetura onde os leitores encontrarão, pela pena de autoridades competentes, conselhos, notas e sugestões de grande valia no tocante à escolha de plantas e estilos arquitetônicos, mormente no que se refere às tendências modernas, onde os arquitetos brasileiros grangearam justa fama universal.

Foi o grande arquiteto Le Corbusier que definiu a casa como “a máquina de morar”. Não queria ele com isso dizer que o homem deve morar em uma máquina no sentido que damos à palavra. Com essa definição veio outra expressão moderna: “arquitetura funcional”.

À primeira vista, impressiona mal ao leigo quando se diz que sua casa deve ser funcional, mas analisando bem o que deve ser uma casa, ele poderá compreender o verdadeiro sentido do “funcional” em arquitetura e poderá também compreender um pouco melhor a tendência da arquitetura contemporânea.

Uma casa deve preencher três condições essenciais: solidez, comodidade e beleza.

Na solidez, entende-se a boa técnica de construção, a arte de construir não somente os alicerces, as paredes e as coberturas, mas também as suas instalações. A solidez é a qualidade do que é sério, real. A comodidade verifica-se desde a colocação da casa no terreno, a planta, a solução dos problemas de circulação, distribuição, insolação, ventilação, proteção e até as instalações. A beleza é também indispensável, pois é ela que dá encanto à vida. Precisamos que a casa na qual vivemos e para a qual temos que olhar diariamente nos agrade e nos dê prazer. As três condições: solidez, comodidade e beleza devem estar sempre preenchidas ao se projetar uma casa.

Ocorreu-me escrever algumas notas sobre um problema que sempre aparece quando se pensa em construir uma casa. Digo do ponto de vista do proprietário. Uma casa moderna ou em “estilo tradicional”? Tenho ouvido frequentemente de clientes que aparecem no escritório, um argumento que eles julgam decisivo: “a casa deve ser projetada em estilo tradicional porque assim ela está sempre bem enquanto que o moderno passa”. Nada mais errado. O aspecto exterior de uma casa deve ser a consequência lógica da planta, do terreno, do ambiente, do material e da técnica a serem empregados. Esses elementos vão ditar o tipo de fachada da casa. O restante, para o desenho da fachada, deve ser o estudo da proporção. Uma abertura deve ser colocada mais para a esquerda ou para a direita, mais para baixo ou para cima por razões de planta ou de proporção. O problema de proporcionar bem uma fachada é, sem dúvida, um dos mais difíceis e requer do arquiteto não somente sentimento estético como conhecimento de geometria. Apesar de não parecer ao leigo, é muito mais sério e difícil desenhar uma fachada simples, lisa e agradável do que uma outra cheia de “enfeites” e elementos que por aí chamam de “decorativos”.

Ainda uma pergunta surge frequentemente: Por que não fazer uma casa em um dos estilos chamados “tradicionais”? Tudo tem sua época. Os palácios de Veneza ou os castelos medievais são monumentos de grande beleza, mas precisamos ver em que época foram feitos, com que materiais e como vivia o homem naquela época. Se não admitimos mais que façam fossos em volta das casas, com pontes levadiças para seu acesso, se não admitimos mais que a iluminação seja feita somente através de seteiras estreitas, por que vamos admitir casa em tipo de castelo medieval? É contrassenso. O homem não precisa mais que sua casa seja uma fortaleza inexpugnável. Pelo contrário, o homem precisa da convivência dos outros, sua casa deve ser convidativa aos seus semelhantes. Daí as grandes aberturas. A segurança necessária hoje é relativamente menor, pois a educação e o policiamento defendem melhor a propriedade individual.

A arte moderna, assim como a arquitetura contemporânea, nem sempre é bem compreendida. É necessário tempo para que o povo compreenda melhor e aceite as novas formas e concepções. Com a música, também se observa o mesmo fenômeno. Quando, em Paris, em 1913, foi apresentado pela primeira vez o “Rito da Primavera” de Stravinsky, as vaias e assovios do público quase enlouqueceram Serge Diaghileff, que dirigia os balés, e Nijinsky quase enlouqueceu no meio da dança. Hoje, essa mesma música é considerada uma obra-prima e Stravinsky é aceito como um clássico da música contemporânea.

Outro exemplo de Arquitetura “funcional”: Casa de campo. Projeto de Rodney Walker

Planta da casa da pag. anterior: 1 Living room. 2 Sala de jantar. 3- Cozinha.


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Curitiba, Um Grande e Moderno Centro Urbano No Sul Do Brasil

Curitiba, cidade progressista de linhas modernas, tem suas origens envoltas em pitorescas lendas. Arraial de mineradores nos primeiros tempos da colonização, pouco se conhece de exato quanto à sua fundação. Segundo uma das tradições a primitiva povoação foi edificada na margem do Atuba, onde a fé dos primeiros colonos ergueu uma capela a N. S. da Luz. A imagem da Santa, todavia, virava-se constantemente para certa direção o que levou a gente piedosa desses tempos a acreditar que, com isso, a padroeira estava sugerindo a mudança da povoação, o que foi levado a efeito mais tarde em circunstâncias que outra lenda relata. Resolvida a mudança, reuniram-se os colonos que, para a escolha do novo local, consultaram um velho cacique tingui. Este, chegado à encosta do Morro de S. Francisco, entre o Ivaí e o Belém, lançou ao chão uma vara de aroeira, exclamando “Aqui!”… E ali foi, então, fundada a povoação definitiva, onde a vara floresceu transformando-se, com o correr dos tempos, em frondosa árvore.

Até aqui a lenda. Vejamos agora os fatos históricos. Em 1666, considerando o desenvolvimento da povoação, foi solicitada a sua elevação à categoria de vila, o que só lhe foi concedido em 29 de março de 1693.

Daí em diante, por diversas circunstâncias, o progresso da já então vila, processa-se lentamente e só no século XIX, após a independência, é que sua situação lhe conquistou foros de cidade, verificando-se isso em 1842. Onze anos depois, com a emancipação da província, foi escolhida para capital da mesma.

Data dá uma nova etapa na sua história. Na qualidade de capital da Província do Paraná, alarga-se, desenvolve-se, transformando-se, aos poucos, em um grande centro de atividades. Abrem-se estradas de comunicação com o exterior; constrói-se a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, cujo primeiro trecho é inaugurado por D. Pedro em 1880, e com isso acelera-se o progresso da cidade e da Província. Com o advento da República, Curitiba se desenvolve ainda mais, não só do ponto de vista urbano, mas também cultural e industrial. Em 1905 é fundada a Escola de Belas Artes, ano em que o Ginásio (antigo liceu provincial) passa a ter uma sede mais digna. Em 1910 é fundada a Universidade, enquanto os serviços públicos, o comércio e a indústria, por sua vez, se desenvolviam e progrediam de forma notável.

E assim, graças aos esforços de seus filhos e de administradores beneméritos, Curitiba é hoje uma cidade moderna, com magníficas ruas e praças públicas, edifícios soberbos e uma intensa vida em todos os setores de atividade.

A Organização Lowndes está representada em Curitiba pelas seguintes empresas:
Joel C. de Souza Pinto, que representa as Companhias de Seguros Sagres e London & Lancashire.

Indústrias Pedro N. Pizzatto Ltda., representantes da London Assurance e da Cruzeiro do Sul.

Leão Junior & Cia. S.A., que representa a Companhia de Seguros Imperial, e o Sr. Antonio Galindo Jr. como inspetor da Cruzeiro do Sul Capitalização.

Vista parcial de Curitiba, onde se p[…] modernos edific[…]

O suntuoso edifício da Universidade

Outro aspecto de Curitiba, vendo-se três edifícios modernos


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Reflexões Sobre O Jogo

René Brodar

A julgar pelo volume e o entusiasmo da clientela das organizações que exploram comércios à base do azar, pela prática franca ou clandestina, legal ou irregular, confiável ou não do jogo, seja ele regulamentado ou proibido, um fato caracteriza-se absoluto e positivo: o jogo de azar exerce sobre o mundo uma profunda e poderosa atração.

E esse poder de atração é tão forte que a lei, expressão máxima do critério, da razão, da sabedoria e da moral coletiva, não tem força suficiente para neutralizá-lo totalmente.

Não entra em cogitação, aqui, de apreciar e muito menos julgar se o jogo é ou não reprovável; constatamos apenas que ele é eminentemente humano.

Na ordem prática dos acontecimentos, o jogo, afinal de contas, realiza, em definitivo, uma dispersão de sobras de dinheiro. Os participantes do jogo “à fonds perdus”, como a loteria, as corridas de cavalos, o jogo do bicho, a roleta e outros, arriscam um dinheiro de que dispõem e admitem correlativamente que uma circunstância estranha possa determinar a ordem de dispersão do mesmo.

O dinheiro do jogo, a bem dizer, não pertence ao jogador e sim à coletividade dos jogadores, pois que o desprendimento dos seus portadores é total. É um dinheiro lançado ao azar, jogado, possivelmente jogado fora. O consolo, consolo que é toda a paixão do jogo, está no fato de que, em alguma parte, o dinheiro tem de reaparecer. Nesta esperança, todos os jogadores são intimamente solidários.

Solidariedade que justifica a universal aspiração de fortuna fácil.

A lei, e também a moral condenam o jogo de azar, e tem razão. Isso porque a paixão viciosa despertada pelo jogo, muitas vezes determina a perda de controle do jogador nas aplicações das sobras de que realmente pode dispor, vindo ele a exceder-se e jogar fora dinheiro de suas necessidades e até dinheiro que não lhe pertence.

Nesta ordem de reflexões, a conclusão a que leva um elementar bom senso é pois a seguinte: o jogo ideal seria aquele em que nunca pudesse o dinheiro ser considerado jogado fora. Ora, é precisamente o que oferece, sem ser jogo, a capitalização, que tem a autorização e o controle da lei, o parecer favorável da moral e o poderoso apoio do interesse.


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Gustavo Paiva

Por Carlos B. Rabello

Há muito tempo, este “Noticiário” deve um tributo de saudade a essa figura ímpar da indústria brasileira que foi Gustavo Guedes de Paiva.

Nascido no dia 15 de setembro de 1891, na cidade de Paraíba, hoje João Pessoa, transferiu sua residência, ainda muito jovem, para Maceió, onde viveu uma vida inteira dedicada ao trabalho e ao bem-estar de seus semelhantes.

Os primeiros anos de sua vida foram dedicados aos estudos e ao trabalho, e já em 1913, com apenas 27 anos de idade, foi eleito Diretor-Presidente da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos.

Desde logo, iniciou obras de grande magnitude que fizeram seu nome conhecido em todo o território nacional.

Toda a imprensa brasileira tem falado sobre Gustavo Paiva, analisando várias facetas de seu caráter grandioso. Isso representa o agradecimento de uma grande nação a um de seus filhos que mais a engrandeceu e a tornou admirada por todos os povos.

Na época de sua eleição, a indústria algodoeira não era das mais prósperas, pois todos sabem que, terminada a terrível Primeira Guerra Mundial, os países manufatureiros lançaram-se na reconquista dos mercados perdidos e a incipiente indústria brasileira, que não se aparelhar convenientemente, dificilmente suportava o terrível combate.

Mesmo assim, Gustavo Paiva iniciava obras sociais de tamanho esplendor, que o tornavam um verdadeiro revolucionário. Vem daí a admiração que sentimos por esse grande brasileiro.

Quando em 1930, o Sr. Getúlio Vargas assumiu o governo do Brasil, governo esse que deveria ficar celebrizado pela reforma completa das leis trabalhistas, já encontrou Gustavo Paiva que, sem alardes, sem ideias outras que não fossem a grandiosidade de sua pátria, criava sem descanso, dentro de suas fábricas, o bem-estar e a prosperidade de todos os seus operários.

É justamente por esse ângulo que desejo analisar a personalidade marcante desse brasileiro ilustre, que foi o socialista Gustavo Paiva.

As fábricas da Companhia Alagoana já possuíam, em 1930, as suas vilas operárias, vilas essas não constituídas de palhoças sem higiene e sem conforto algum, lembrando os velhos mocambos imundos habitados pelos escravos, nos engenhos de açúcar do século XIX. Bem ao contrário, eram casas de alvenaria todas isoladas, com seus aparelhos sanitários, com seus quintais e alegres jardins.

Suas fábricas já possuíam cooperativas, onde a fiscalização diária de Gustavo Paiva evitava que seus operários fossem lesados de qualquer maneira. Ali não existiam armazéns de campo da empresa, onde o operário recebe sempre uma conta com saldo devedor, tornando-o um escravo sem possibilidade de redenção.

Assistência sanitária (médica, farmacêutica, dentária e hospitalar) já era conhecida, nessa ocasião, por todos os operários de Rio Largo. E Gustavo Paiva, esse homem que trabalhava doze horas por dia, sempre encontrava tempo para visitar pessoalmente qualquer operário seu que se encontrasse enfermo, assistindo-o material e moralmente.

Em um Grupo Escolar e várias pequenas escolas, todos construídos na mais perfeita higiene moderna, os filhos e os próprios operários encontravam professores dedicados, que lhes ministravam completa instrução, formando dentre eles espíritos cultos, que hoje honram as letras alagoanas.

A parte recreativa também não era desprezada por Gustavo Paiva. Um cinema modelo, até hoje o melhor do Estado de Alagoas, já havia sido construído, para gáudio do operariado de Rio Largo. Um teatro com capacidade para 800 pessoas sentadas dava oportunidade para que se manifestasse a capacidade artística de vários humildes trabalhadores de nossas indústrias.

O cassino de Rio Largo, com sua monumental piscina, seus salões de danças e jogos, palco e bar e tantos outros melhoramentos, não encontra similar até hoje, em qualquer parque industrial da América do Sul.

Campos de futebol, tênis, voleibol e basquetebol existem em Rio Largo, para atestarem quanto Gustavo Paiva se interessava pelo desenvolvimento físico e moral de seu operariado. Todos esses campos são frequentados por trabalhadores sem distinção de categorias, numa perfeita demonstração de democracia.

Também existe em Rio Largo uma escola profissional, onde nas oficinas tipográficas, carpintarias, marcenarias e outras, formam-se novos operários especializados para o engrandecimento industrial do Brasil.

O “Nosso Jornal”, revista de publicação mensal, editada por conta da direção da empresa, recebe colaboração de todos os trabalhadores e por essa colaboração é muito fácil se analisar a evolução que se vem dando no operariado alagoano.

A par de todos esses melhoramentos, a direção jamais se descuidou dos de ordem técnica dentro de suas fábricas. Salões vastíssimos com muita ventilação e luz foram edificados e neles instalada a maquinaria de fiação e tecelagem. Hidrantes, extintores, baldes de areia e água são espalhados por toda parte, atestando a preocupação de evitar sinistros que, além dos males materiais, muitas vítimas poderiam causar.

O Corpo de Bombeiros é uma organização modelar com seus soldados do fogo, comandados por um oficial competente, que vem imprimindo conhecimentos e disciplina, tornando-a de grande utilidade, não somente para Rio Largo, como também para a capital alagoana, onde por várias vezes já tem sido solicitada para a extinção de incêndios.

Além de diretor da Cia. Alagoana, Gustavo Paiva era chefe da firma Guedes de Paiva & Cia., que em Maceió, desde há muito, representa a Cia. Sagres, uma das seguradoras da Organização Lowndes. Dessa forma, tive oportunidade de estar em contato com esse grande espírito, em várias ocasiões.

Certa vez, encontrava-me em Maceió, quando fui distinguido com um convite especial para assistir à exibição das bandas de música masculina e feminina da Cia. Alagoana, no Teatro Municipal de Maceió.

Comparecendo a esse espetáculo, pude compreender o quanto valem a dedicação e o esforço de um bem-intencionado. Ali não estavam duas bandas medíocres, como era possível esperar, e sim uma plêiade de músicos conscienciosos, que sentiam a responsabilidade que estavam assumindo.

Essas bandas chegaram a ser exibidas no próprio Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde Gustavo Paiva as trouxe para mostrar aos metropolitanos o grau de cultura artística de seus operários.

Naquela mesma noite, compareci a um sarau no Cassino de Rio Largo, notando desde logo que as famílias de todos os diretores da empresa ali se encontravam, compartilhando da festa, dançando com os operários, que se sentiam inteiramente à vontade, sem constrangimento, tão habituados estavam àquele tratamento.

O coração desse grande Gustavo Paiva, traiu-o, e um colapso fulminou-o na noite de 27 de Outubro de 1943. Não poderia deixar de ser assim. Esse homem, que de todos se lembrava sempre, esquecia-se de si próprio. E assim perdeu o Brasil, um de seus grandes filhos com somente 52 anos de idade.

Esse dia foi de luto para toda a população de Alagoas. O enterro de Gustavo Paiva foi a maior apoteose que Maceió já presenciou. Parecia que toda a população de Maceió e do próprio Estado se aglomerava nas calçadas de todas as ruas e avenidas para assistir à passagem do caixão que continha um tão grande homem. Seus operários, seus amados filhos, o carregavam nos ombros, permitindo que as lágrimas rolassem pelas faces, testemunhando uma saudade que nunca teria fim.

A obra de Gustavo Paiva não morreu. Seus filhos continuam dirigindo as fábricas seguindo a mesma rotina traçada por seu grande pai.

O operariado de Rio Largo vive feliz e satisfeito. Ali o comunismo não consegue adeptos. Basta observar os pleitos que têm ocorrido, nos quais esse partido jamais conquistou um voto.

E se de fato os grandes espíritos lá de cima observam tudo o que acontece na terra, com que satisfação Gustavo Paiva sempre ouvirá essa mesma frase a cada momento: “Árvore boa só dá bons frutos”.


IN MEMORIAM

Alvaro Bittencourt De Almeida

Temos o pesar de fazer constar o falecimento desse nosso companheiro, vítima de fatal atropelamento ocorrido na manhã de 26 de fevereiro. O fato deixou consternados todos os que conheciam o extinto que gozava de grande simpatia na Organização Lowndes.


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Veja Se Sabe…

Veja se pode responder corretamente às 20 perguntas abaixo, experimentando assim sua cultura e sua memória. Cada pergunta certa vale 5 pontos. De 80 a 100 pontos, é um resultado ótimo; de 60 a 80, bom; de 50 a 60, regular. Confira os resultados com as respostas certas no fim da revista.

  1. O areômetro é um aparelho que serve para determinar a densidade dos corpos, para medir a velocidade do ar ou para medir temperaturas?
  2. Capilaridade é um fenômeno físico, uma doença, ou o estudo dos vasos capilares?
  3. Qual é o nome químico da água: Protóxido de azoto, Bióxido de Hidrogênio ou Protóxido de hidrogênio?
  4. Os vegetais que vivem na terra chamam-se orizófagos, xerófilos, ou aerófitos?
  5. A malária é transmitida por um inseto. Qual destes: pulga, mosquito ou mosca?
  6. Qual destas cidades é chamada de Veneza Brasileira: Rio de Janeiro, Laguna ou Recife?
  7. Em quantas regiões geográficas o Brasil está dividido: 5, 6 ou 7?
  8. Qual é a maior baía do Brasil: Guanabara, Todos os Santos ou Canárias?
  9. O verso “Como a ave que volta ao ninho antigo” é de Luiz Guimarães, de Bilac ou de Raymundo Corrêa?
  10. O romance “Eurídice” foi escrito por Jorge Amado, José Lins do Rego ou José de Alencar?
  11. Leopoldo Froes foi um grande médico, um célebre ator, ou um pintor famoso?
  12. Inocêncio III foi papa, imperador ou rei?
  13. Houve um monarca português que ficou famoso pelo seu apego à justiça e mereceu, por isso, o cognome de Cru (cruel). Qual destes: Pedro I, João I ou Pedro II?
  14. A chamada “Revolução Praieira” teve lugar na Praia Grande, no Rio Grande do Sul ou em Pernambuco?
  15. O carro de assalto blindado (tank) foi inventado na Guerra Russo-Japonesa, na I Grande Guerra ou na Guerra Franco-Prussiana?
  16. Corroborar é o mesmo que corroer, colaborar ou comprovar?
  17. Óbvio quer dizer: evidente, todavia ou obtuso?
  18. Despiciente significa: feito em pedaços, que desdenha, ou despido?
  19. O I Campeonato Mundial de Futebol foi realizado em Amsterdã, em Londres ou em Montevidéu?
  20. A I Olimpíada moderna foi realizada na Grécia, na Inglaterra ou na Alemanha? 

RESPOSTAS

  1. Determina a densidade dos corpos;
  2. Fenômeno físico. Elevação ou depressão dos líquidos em contacto com os sólidos;
  3. Protóxido de hidrogênio;
  4. Xerófilos;
  5. Mosquito, particularmente da espécie anófele;
  6. Recife;
  7. Em cinco;
  8. Todos os Santos, na Bahia;
  9. de Luiz Guimarães;
  10. Por José Lins do Rego;
  11. Um célebre ator brasileiro;
  12. Foi papa;
  13. Pedro I, o célebre monarca que fez Inez de Castro rainha depois de morta;
  14. Em Pernambuco;
  15. Na I Guerra Mundial, por sugestão de Winston Churchill;
  16. Comprovar,
  17. Evidente;
  18. Que desdenha;
  19. Em Montevidéu, em 1930;
  20. Na Grécia, em 1896.

HORIZONTAIS

1 Advérbio Comum às democracias.
2 Verbo-3ª pessoa do Indicativo Presente – Com relação ao coração.
3 Pronome.
4 Preparar um navio à vela para se fazer ao mar.
5 Residência de uma família.
6 Verbo “dever” com outro verbo dizem que não deves “juntar”.
7 Nas aves.
8 Nas árvores.
9 Contração.
10 Ferramentas de ferreiro, no plural.
11 Foram célebres com Dante e Beatriz, com Abelardo e Heloísa e com muitos outros seres humanos.
12 O verbo no subjuntivo é uma operação comum nos instrumentos cortantes.
13 Grande navegador do século XV.
29 O inverso do “bem”.
31 Exclamação – Dor!
32 Sobrenome.
33 Indispensável à vida do homem. 

VERTICAIS

1 O que lida com cifras e códigos.
2 Verbo – Indicativo Presente.
14 Ilha da Oceania.
17 Grande geômetra grego.
10 Autor francês muito lido pelas “jeunes filles”.
18 Quem casa quer… no plural.
15 Relacionado ao n. 13 ao “gato preto”.
21 Nas cabeças.
16 Não é fundo.
22 Acima do solo, no plural.
23 Nome de um escritor português muito lido no Brasil.
20 Prefixo que significa “na frente”, antecedência, precedência.
24 L4 O4.
25 H4 R.
26 A2 O2 E2 A2.
27 Pronome pessoal.
28 R2 S3.
34 Apelido de Luiz. 

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