Este documento é parte do nosso Acervo Histórico

Noticiário Lowndes – Nº 19

1 de setembro de 1948
É fundamental destacar que as informações contidas em nosso arquivo histórico são uma expressão do contexto da época em que foram produzidas. Elas não necessariamente refletem as opiniões ou valores atuais da nossa empresa. À medida que progredimos e nos ajustamos às mudanças em nosso entorno, nossas visões e princípios também podem evoluir.

O 12° Aniversário De Lowndes & Sons LTDA

No dia 1º de setembro pp. completou mais um ano de atividades LOWNDES & SONS, LTDA., marco inicial da Organização Lowndes, denominação pela qual o público já se habituou a designar o grupo que compreende as firmas que, sob a mesma orientação financeira e administrativa, dia a dia, vêm firmando uma posição de confiança e estabilidade na curva ascendente da expansão e seriedade de seus negócios.

A exemplo do que se fez nos anos anteriores, mais uma vez estiveram reunidos num almoço íntimo no restaurante Alba Mar os principais dirigentes da Organização Lowndes, ao qual compareceu também o representante de Wood & Cia. Ltda., de São Paulo, na pessoa do Sr. McCrae.

Lowndes & Sons Ltda., administradores de bens, corretores de imóveis, Cias. de Seguros Cruzeiro do Sul, Sagres e Imperial, Cruzeiro do Sul Capitalização S.A., Banco Lowndes S.A., ramos fortes de uma sólida e frutuosa árvore a serviço da emancipação e grandeza econômica do Brasil.


MATÉRIA

Cheque Marcado E Cheque Visado

Desembargador Prof. Edgard Ribas Carneiro

A lei e a prática

Como se sabe, o “cheque” veio a ser regulado no direito brasileiro pelo Decreto Legislativo n. 2591 de 7 de Agosto de 1912, lei que, ainda, se acha em vigor.

O cheque é uma ordem de pagamento à vista, onde o direito do portador do cheque em recebê-lo do sacado no momento em que apresenta o título.

Todavia, o art. 11 da citada lei, assim dispõe: “Se o portador consentir que o sacado marque o cheque para certo dia, exonera todos os outros responsáveis”.

E o que constitui o cheque “marcado”.

Diante do dispositivo de lei transcrito, vê-se que, para o sacado marcar o cheque – em vez de o pagar, necessita do consentimento do portador.

E, “marcado o cheque para certo dia”, neste dia é que o cheque se vencerá, equivalendo a “marcação” do cheque em um verdadeiro “aceite” do sacado que ficará sendo o exclusivo responsável pelo título, exonerados o sacador, seus possíveis avalistas e endossantes.

O cheque “marcado” se compara à cambial aceita para pagamento em dia certo, aplicando-se, então, ao cheque, a lei cambial o Decreto legislativo n° 2044 de 31 de Dezembro de 1908.

Pelo exposto, vê-se que o cheque “marcado” é uma modalidade de cheque expressamente prevista em lei.

Entretanto, na prática, o cheque “marcado” não é conhecido.

Durante o tempo em que exerci a advocacia, jamais tive a oportunidade de examinar qualquer hipótese de cheque “marcado” e, como magistrado, até o presente momento, não me deparei com tal situação.

Devo mesmo dizer que, certa vez, conversando com um aplicado bancário, ele se surpreendeu com a existência legal do cheque “marcado”.

Quanto ao cheque “visado” ocorre precisamente o oposto. É uma prática comum a de pedir ao portador do cheque, ao apresentá-lo ao sacado, que este o “vise”, na suposição de que o cheque “visado” possua garantia maior. Essa prática não tem o mais remoto amparo legal, pois o Decreto Legislativo nº 2591 de 1912 de maneira nenhuma se refere ao cheque “visado”.

Desse modo, o cheque “visado” vale tanto quanto o cheque “comum”, constituindo uma dívida líquida para o sacador, seus avalistas e endossantes. No máximo, o sacado, ao “visar” o cheque, atestará que naquela ocasião o sacador possuía fundos disponíveis no valor consignado no título, mas “visando” o cheque, o sacado não assume a responsabilidade de pagá-lo e não pode, de forma alguma, por falta de respaldo legal, reter a provisão como garantia para o portador.

A prática do cheque “visado” é, portanto, completamente destituída de fundamentação legal e, consequentemente, inóqua.

Penso mesmo que tal prática não pode ser havida como “uso e costume mercantil”, pelo seguinte: O cheque é um título eminentemente formal, como a nota promissória e como a letra de câmbio. Por isso, o Decreto Leg. 2591 de 1912 regulando o cheque, minuciosamente prescreve o que o título deve conter para ser reputado válido, prevendo todas as modalidades do cheque.

Assim, não prevendo a lei o cheque “visado”, impossível será admitir sua existência por força de uma prática ainda que reiterada, tanto esta prática se opõe ao formalismo do título.

Certa vez, no Instituto da Ordem dos Advogados, tive oportunidade de demonstrar a inadmissibilidade do cheque “visado” como “uso mercantil” ao discutir uma consulta da então existente Junta Comercial de São Paulo.

Infere-se do exposto o seguinte:

O cheque “marcado” é uma modalidade de cheque prevista em lei mas ignorada na prática; enquanto que o cheque “visado” é uma modalidade de cheque comumente praticada mas desprovida de qualquer apoio legal.

Encerrando estas breves considerações quero assinalar que merece ser previsto em lei o cheque “visado”, sendo de aconselhar ao meio bancário que advogue sua admissão em lei perante a Comissão Especial que, sob a presidência do Sr. Ministro da Justiça, está elaborando o anteprojeto do “Código Comercial”.


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O Seu Dia Chegará?

O sr. E. G. Woodward possui escritório na Av. Marechal Câmara, 350, sala 80, e é proprietário de um automóvel Chevrolet, com a matrícula FP-144. Ele tem um carro há vinte e dois anos e fez sua primeira reclamação a uma Companhia de Seguros no último mês de junho. Isso demonstra não apenas a habilidade do sr. Woodward como motorista, mas também o cuidado com que ele dirige. Assim como tantas outras pessoas, é difícil para alguém com uma longa história automobilística “sem problemas” como a do sr. Woodward, deixar de fazer um seguro para seu carro. E, de forma previdente, ele não deixou de fazer. Infelizmente, por pura falta de sorte, ele teve seu primeiro acidente no dia 22 de junho passado. Como o sr. Woodward é segurado pela Companhia de Seguros Sagres, eles foram informados do ocorrido e imediatamente tomaram as medidas necessárias para providenciar o rápido conserto do carro.

A propósito, o sr. Woodward enviou uma carta à Companhia, de forma espontânea e amigável, que traduzimos do original em inglês:

“17 de julho de 1948

Sr. Barbalho
Cia. de Seguros Sagres
Rua do México, 90 – 4º
Rio de Janeiro

Caro sr. Barbalho,

Apenas algumas linhas para expressar minha satisfação com o conserto realizado em meu carro Chevrolet FP-144 após aquele infeliz acidente.

Acredito que a equipe fez um excelente trabalho em um tempo surpreendentemente curto. O acidente foi pura falta de sorte e, na verdade, esta é a primeira reclamação que faço a uma companhia de seguros em 22 anos desde que tenho um carro.

Com meus cumprimentos,

Assinado

E. G. WOODWARD”

Esperamos sinceramente que esse dia não chegue para você. Nem para o leitor, caso seja proprietário de um automóvel, nem para a Companhia que segura o seu carro. Mas…

“A vida é uma história contada por um louco, cheio de calor e entusiasmo e que não significa nada.”
– Shakespeare


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Grande Interesse Pela Arte Na Inglaterra

Por ERIC NEWTON
Copyright B. N. S., especial para o “NOTICIÁRIO LOWNDES”

A enorme popularidade da exposição de telas de Van Gogh, que repete nas províncias o sucesso que obteve em Londres desde que foi encerrada na Tate Gallery, é um sintoma do novo espírito que se alastra na Inglaterra. Também não é esta a única exposição de pintura que tenha açambarcado o interesse popular. Antes de mencionar as outras, porém, vale a pena recordar o efeito da Exposição de Van Gogh realizada em Londres, onde, é verdade, foi menor a impressão produzida pela vastidão da mostra do que pelo número extraordinário de visitantes: 30.000 por semana e 12.000 num dos domingos. As filas compunham-se de pessoas de todas as classes sociais, o que prova que a pintura pode atrair tantos espectadores como uma partida de futebol.

Essa afluência extraordinária deve-se, entre outros motivos, à grande difusão obtida pelas reproduções coloridas de telas de Van Gogh, e a que o povo britânico passou “fome” de cores e alegria durante vários anos. É preciso lembrar ainda que a vida apaixonada e difícil de Van Gogh foi publicada com grandes detalhes, e que suas cartas publicadas despertam interesse em vastas camadas da população.

Todavia, a verdade do sucesso da exposição é um sintoma do novo espírito reinante. Para provar isso, é suficiente mencionar outras exposições que despertaram o interesse geral. A de tapeçarias francesas, no Victoria and Albert Museum, abrangeu uma grande área e ocupou mais salões. Havia dias, no entanto, em que estava demasiado abarrotada. As tapeçarias que mais chamaram a atenção foram as da época medieval francesa. Os teares dos séculos XV e XVI produziram obras tão interessantes, confiantes perante as incertezas do último quartel do século passado.

Outra exposição muito frequentada por um público ávido e curioso, foi a de “telas limpas” da National Gallery. Antes da exposição registraram-se muitas discussões, entre os técnicos, sobre se algumas das obras primas da National Gallery não teriam sido “definitivamente estragadas” pela limpeza perfeita a que foram submetidas. E a própria exposição destinava-se a justificar os métodos da galeria. Podiam-se estudar à vontade as fotografias feitas antes e depois da limpeza, e compará-las com as telas. As telas limpas, sobre seus fundos novamente pintados, tinham outra vida e significação. Começou-se a pensar que um mestre antigo não tinha de ser necessariamente sombrio por ser velho.

Há algumas pessoas que explicam a atual afluência de público às exposições com as polêmicas provocadas pela exposição de Picasso, há dois anos. Naquela ocasião, o pintor espanhol desfechou no público britânico um “direto ao queixo” e meia Londres foi ver como tinha sido realizada a “agressão”. É possível que milhares de pessoas, que até então não haviam visitado uma exposição, tenham sido tentadas a repetir a experiência e que a repetição tenha engendrado o hábito.

Uma importante coleção de arte, até agora fechada ao público, será futuramente aberta no primeiro sábado de cada mês, concessão pouco generosa, talvez, mas que não deixa de ser mais uma indicação da democratização artística que se processa na Inglaterra. O Barbor Institute de Birmingham é um edifício adstrito à Universidade e aberto apenas aos estudantes. Desde sua inauguração em 1939, foi formando, com o auxílio de um fundo de compras bastante importante e o gosto amplo de seu diretor, uma coleção de telas, desenhos e escultura de alta qualidade. O campo da coleção Barbor é limitado já por vontade expressa de sua doadora, Lady Barbor, que entregou o Instituto à Universidade, sob a condição de não adquirir obras posteriores ao século XIX.


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Paga Uma Indenização De Cem Contos

No dia 25 de fevereiro do corrente ano, foi vítima de um lamentável acidente de consequências fatais, na cidade de Fortaleza, o Sr. Antonio Diogo de Siqueira. Sobrinho, segurado da Cia. de Seguros Cruzeiro do Sul, pela apólice de Acidente Pessoal nº 1148, no valor de Crs 100.000,00, emitida em favor de sua esposa e filhos.

O seguro não preenche, infelizmente, a ausência do ente querido nem mitiga a dor de sua falta. Mas na hora da aflição, do desespero, garantiu à viúva e filhos menores certo amparo material, minorando dessa forma o desaparecimento repentino do provedor da subsistência da família, do esteio em que se apoiavam confiantes perante as incertezas do amanhã.

O seguro tem uma finalidade essencialmente estabilizadora. Total ou parcialmente, restabelece o ritmo normal perdido em circunstâncias que se previram e que muitas vezes se concretizam. À “coisa” em risco atribui-se um valor material, único que é dado ao homem repor.

Com a proteção dos valores, isto é, pelo seguro dos mesmos, se alcança a tranquilidade indispensável à vida, resultado da certeza de uma estabilidade de fatores num período previsto. Verificado o sinistro, o seguro repõe no claro aberto o que foi suprimido total ou parcialmente.

No caso acima e como habitualmente, a Cia. de Seguros Cruzeiro do Sul pagou prontamente a indenização devida à viúva e filhos. É do cheque referente a esse pagamento efetuado pela agência da Cia. em Fortaleza o cliché anexo.


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Combinações – Sorteios – Palpites

RENE BROSAR

Toda pessoa familiarizada com os problemas matemáticos relativos a arranjos ou combinações de letras ou algarismos, sabe, em geral, controlar o instinto particular que recebeu o pitoresco apelido popular de “palpite”.

Seria profundamente errado negar a realidade dos palpites, manifestações subjetivas que todos conhecem, sentem, ou pelo menos têm a impressão de sentir. Quanto à utilização, digamos o aproveitamento dos palpites, existe nesse terreno abundante matéria para discussão. Para discussão e mesmo para estudo.

O fato isolado de um palpite acertado pode ser uma simples coincidência, ou o resultado de uma reação de caráter especial, consciente ou não, vaga ou definida, revelando um estado de preconsciência de natureza ainda não investigada, e, possivelmente, em termos de ligação íntima com a própria natureza em cadeia com o mecanismo universal.

A repetição de acertos palpiteiros pode ser a simples e normal consequência de numerosas tentativas feitas em vista de um eventual aproveitamento, ou ainda a prova de uma predestinação excepcional por parte do seu autor.

A título de passatempo, oferecemos aos leitores do “Noticiário Lowndes” um ligeiro e despretensioso comentário sobre esse assunto que, bem o sabemos, preocupou, preocupa e continuará preocupando o íntimo das gerações humanas.

Está provado, mais do que provado, que o ritmo do universo é rigoroso e perfeitamente ordenado. Desordem é palavra sem sentido quando utilizada em função do infinito, do universo. Em função, porém, do conhecimento humano, desordem significa ignorância “atual” das leis regendo a sequência que constatamos de certos fenômenos e acontecimentos.

São muitas as leis da natureza ainda fora do domínio e controle das ciências. Ao cientista não parece inconcebível o descobrimento das regras precisas da aparente desordem de determinados fenômenos.

O palpite é a prova do caráter intuitivo e generalizado dessa conceição nas criaturas pensantes.

Consta escrito em livros que, em Roma, vivia nas alturas do ano de 1770 um certo Conde Cagliostro, o qual teria descoberto o “Enigma da progressão secreta” que lhe permitiu, entre outros casos notórios, indicar por três vezes o número exato de uma loteria, à certa Madame de la Motte, figura de destaque do mundo parisiense daquela época.

Segundo relatam os livros, tratava-se de um processo em que participava a matemática, a astrologia e a exploração de reações “secretas” individuais, conforme determinados postulados de um código de ciência oculta. Acrescentam esses livros que Cagliostro levou ao túmulo o seu famoso “enigma da progressão secreta”.

Cagliostro levou o seu segredo, sim!… porém não levou todo o segredo; sobrou algo, bagagem mínima sem dúvida, porém interessante ainda, como demonstração e prova de que uma ciência, ou pelo menos, uma lei por ele definida, resultou do estudo profundo, vasto e complexo a que se dedicou para chegar a uma fórmula conveniente, senão rigorosa e perfeitamente segura.

Sabe-se, com efeito, que Cagliostro utilizava cinco “chaves”, quatro delas conhecidas em seus princípios, a quinta tendo ficado até o fim o “segredo de Cagliostro”.

Não entra no assunto destas linhas a descrição das chaves “menores, maiores, aditiva e diferencial”, no mesmo que lhes foram dados pelo famoso conde italiano do século XVIII.

Observadas como fórmulas matemáticas, essas chaves correspondem a quatro equações, cada qual fornecendo um número variável de soluções cuja escolha, seleção e correção obedeciam a determinado critério. Em resumo, a operação inicial apresenta-se com relativa simplicidade. A parte final do raciocínio não tendo sido revelada, não pode, logicamente, nem ser exposta nem explicada, e sim apenas, com a devida reserva, comentada.

Desde Cagliostro até hoje, passaram-se cerca de cento e oitenta anos, durante os quais não faltou quem se ocupasse do assunto, e por certo, com intenso interesse. Ora, o problema fica de pé, integralmente de pé, desafiando a argúcia dos pesquisadores. Agora, admitindo-se que, como ser excepcional, Cagliostro tenha realmente descoberto o famoso enigma, ou em outros termos, tenha definido a lei de “ordem da desordem”, isso provaria simplesmente que o problema é possível, o que poderia inspirar estudiosos a descobrir novamente essa lei.

O termo de afinidade ou de relação entre o resultado selecionado das chaves de Cagliostro e a realidade verificada dos fatos é, com efeito, de difícil percepção, apesar de que, segundo se lê em tratados sobre a matéria, foi verificado em 1898 na Inglaterra pelo escritor Sepharial, o valor experimental das quatro chaves do famoso enigma, pela previsão exata do número de nascimentos a serem registrados no ano seguinte, em cinco determinadas cidades inglesas.

A História registra muitas interessantes circunstâncias cujo caráter enigmático e até mesmo misterioso tem algo de cativante pelo seu aspecto desnorteador da boa e sã lógica a que nos temos acostumado.

Aos clientes da capitalização que escolhem e exigem combinações de letras como características dos títulos que subscrevem, dedicamos especialmente estas linhas. Elas documentam que tal palpite, afinal, longe de ser ilógico, é até perfeitamente humano; talvez venha apenas a lhe faltar a correção que possivelmente lhe poderia proporcionar uma vidente hábil, ou mais simplesmente a fé de que a passagem do corretor que o visita constitui, por si só, a circunstância feliz de sua espera.

Quem sabe se essa circunstância que poder-se-ia chamar a “vontade dos deuses”, não valerá muito mais que o simples palpite nosso ! Quem sabe!

Durante 1947, foram iniciadas nos Estados Unidos a construção de 860.000 casas e apartamentos, no valor recorde de 4.939.000 dólares. A estimativa para o ano atual é de 950.000 habitações, com um custo de 6 bilhões de dólares.

De acordo com um estudo realizado nos Estados Unidos pela SKF Industries Inc., o sistema de transporte número 1 no país é o elevador. Durante um ano, os elevadores transportaram mais de 17 bilhões de pessoas. Em seguida, vêm os “sub-ways”, com 4 bilhões anuais, seguidos por estradas de ferro, com 792 milhões, aviões, com 13 milhões, ônibus, com mais de 10 milhões, e bondes, com 9 milhões. Segundo o mesmo estudo, existem 400.000 elevadores nos Estados Unidos.

A National Board of Fire Underwriters calcula que os prejuízos causados pelo fogo em 1947 ultrapassaram 692 milhões de dólares. Essa cifra é 23,3% maior do que a de 1946, devido à inflação, escassez de materiais, mão de obra e crise habitacional.


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Mãos e Dedos

ARNALDO NUNES

Os pintores têm na sua terminologia particular – uma duas e mais “de mãos”, e dispõem da “mão de obra”, que não lhes é exclusiva. Os agricultores, por ser turno, muito zelam a “boa mão”, e todos nós conhecemos a “mão caridosa” — mão de finados — mão leve — mão de papel — mãos de mestre — dar a mão (ajudar) — deitar a mão (apoderar-se) — mãos rotas (perdulário) — mão na massa — e muitas vezes, de “mãos postas”, pedimos a mão, e apesar de ser em primeira, com as ditas limpas, acabamos ficando “na mão”.

Quanta coisa sobre a mão! A própria história parece não fazer outra coisa senão repetir-se. Até na vaidade das mãos assim é.

Esse exagerado e carnavalesco requinte da elegância feminina não é um produto do nosso tempo. Dominou para as bandas do Iêmen, na Arábia, aos tempos que já lá se vão. Pelo menos um caso justifica o asserto. As mãos afiladas, lindas e sedosas que traziam de longe rubis, diamantes e pérolas ao Rei sábio, Salomão, vinham polidas e cuidadas como as sabia apresentar a encantadora Belkier, Rainha de Sabá, excedendo nessa arte não só as mulheres do seu tempo mas também as de hoje, porque o fazia dando-lhes, às mãos, expressão de vida, e não de morte, da pintura de barro de quitanda, que por aí se vê, com pretensões a alto gosto.

Assim foi. E não passou despercebida a Salomão a beleza magnífica daquelas mãos afeitas às carícias, uma vez que pôs na boca de sua amada as seguintes palavras: “Eu abri a porta para receber o meu amado; e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra”, etc.

Ademais, as mãos não têm só o dom do encantamento ou da beleza pura e simples. Há mais. Elas vão longe. Falam, denunciam e expressam muito sentimento.

Diz Stefan Zweig que o jogo revela o homem, mas que a sua mão, durante o jogo, revela muito mais. Todos aprendem, às vezes, com perícia, a expressão fisionômica. Mas esse trabalho de dissimulação obriga a convergir para ele toda a atenção, ficando esquecidas as mãos que revelam, pela sua maneira de esperar, de agarrar ou ficar quieta, a individualidade do jogador. Recurvadas, como garras, denunciam o homem cúpido; moles, o pródigo; calmas, o calculador; e trêmulas, o homem desesperado.

Também Emil Ludwig notou coincidência de serem sempre bem-feitas e quase sempre belas as mãos dos ditadores com quem falou, contrastando com a alma horrível que os anima.

Quanta coisa sobre as mãos! Elas falam, denunciam e traem… Foi por isso que, em “Haz de tu mano um vaso”, Felix B. Visilac, disse:

“Ház de tu mano um vaso; trêmula entre as minhas hei de soá-la um cálice com sublime elixir; a água há de embriagar-me como as harmonias… Se bebendo em tua mão se bebe o teu sentir!”

Segundo Martins Fontes:

“A mão é bela, a mão é boa:
Ela é que afaga e que abençoa,
Asa adorada…

Desenha a ideia, espelha a graça,
E vê-se nela a alma da raça
Sintetizada.

A arte é nas mãos que se revela:
A mão que é boa, sendo bela,
É a perfeição!

E dizem bem os ocultistas:
A inteligência dos artistas
Está na mão!” 

Longe foi Eugênio de Castro na sua interessante “Canção da Mão Esquerda “, cujo azedume faz lembrar a briga da pena com o tinteiro:

“Sou gêmea da mão direita,
O mesmo ar nos circunda,
Mas ela alçou-se a morgada
E eu fiquei como filha segunda.

Nascemos no mesmo leito,
Na mesma noite estrelada,
Porém, sendo eu sua irmã,
Ela é ama e eu sou criada.

Eu sou bem criada por ela,
Que está sempre me chamando,
Se desejo calçar os chinelos,
Se quer que eu abotoe os botões.

Ela é fidalga, eu plebeia,
Assim quis nossa estrela:
Coisas mesquinhas são minhas,
E coisas belas são dela.

Ela abençoa e agradece,
Leva à boca a sopa quente;
Dá esmolas, recebe elogios
E colhe a flor que renasce.

É ela quem acorda a lira
No Parnaso com o plectro,
Quem empunha a espada na batalha
E o cetro no trono.

Sobre os Santos Evangelhos,
Sempre é ela quem jura,
E perante o altar do casamento
É ela quem se mostra e faz figura.

Ela faz o sinal da cruz,
Do início ao fim do dia,
E manda eu fazer figas
Para as bruxas e para o diabo!

Ela sempre em nobres afazeres,
E eu sempre em descanso cruel…
Só em um ponto a venço e humilho:
Ela anda nua e eu uso anéis!

Mas na cova acabarão
Todas as diferenças da vida:
Eu serei comida pelos vermes,
E ela será comida pelos vermes!”

Ainda nas mãos, os próprios dedos têm as suas vaidades particulares. Há o Dedo da Providência, o fura bolos – pelo dedo se conhece o gigante ter dedo para a coisa, que lamber os dedos, chuchar nos dedos e até aquela expressão que, com dedo de mestre, Guerra Junqueiro, se me não trai a memória, arranjou, para não ser grosseiro com o seu adversário: “Prego-te nas fuças as cinco dedos de Juvenal!” É de uma delicadeza encantadora… O mundo até hoje espera que os homens de responsabilidade pública ponham o dedo na consciência, para sossego dessa eterna abstração, o povo, em nome do qual tudo se faz. Enquanto isso, os poetas vão cantando. Moacir Silva assim terminou uma inspirada composição sobre os dedos:

“Se quereis dar-me
Bem que conforte,
Ouvindo o alarme
De minha morte,
Fechai-me os olhos turvos,
Olhos parados,
Ó dedos curvos,
Dedos gelados!…”

Também outro poeta compôs uma trova, que já foi colocada entre as melhores da nossa língua:

“Embora muito pesada,
Não maldigo a minha cruz.
Minha alma é harpa tocada
Pelos teus dedos de luz”.

E, finalmente, ali na Serra dos Órgãos, emergindo do solo abençoado, está o “Dedo de Deus”, a apontar-nos no Céu, o radioso Cruzeiro do Sul, que pouca gente vê…

“Sempre uma pequena dúvida a acalmar, eis aí o que faz a sede de todos os momentos, eis o que faz a vida do amor feliz.”
– Stendhal


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Novo Avião De Carga e Passageiros

(De Londres pela B. N. S.).

A Sociedade de Construtores de Aviões da Grã-Bretanha divulgou esta semana detalhes referentes a um novo avião britânico para o transporte de passageiros e carga, de 42 toneladas. Esse aparelho, denominado “Universal Transport”, será, em sua classe, o maior avião britânico e começará a voar no início do próximo ano. Terá uma envergadura de mais de 49 metros, uma altura de 9 metros e meio e um comprimento de 30 metros. Sua característica mais notável é um espaço contínuo de 161 metros cúbicos para o transporte de mercadorias.

Denominado com justiça “Universal”, esse aparelho poderá ser utilizado de diversas maneiras. Assim, por exemplo, pode ser adaptado ao serviço de transporte de passageiros, com capacidade para 90 passageiros e serviço de refeições ligeiras. Mesmo assim, ainda haverá espaço para o transporte de 9 toneladas de carga em um voo de 500 milhas.

Outra particularidade é o baixo custo de funcionamento. Em uma viagem de 500 milhas (800 km), o custo será de pouco mais de 9 pence por tonelada.

Como a finalidade primordial do novo aparelho é o transporte de mercadorias, seus construtores não se interessaram em assegurar-lhe velocidade excessiva. Não obstante, desenvolve uma velocidade de cruzeiro de 240 a 320 km por hora e alcança uma velocidade máxima de 386 km por hora.

Foram observadas rigorosamente todas as disposições internacionais referentes à decolagem e aterrissagem. Com sua carga máxima, o aparelho poderá aterrissar em um espaço de 450 metros e a 774 metros do ponto inicial de partida poderá sobrevoar um obstáculo de 15 metros de altura.


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Portadores Felizes Da Cruzeiro Do Sul Capitalização S.A.

Em cima o Sr. Albino G. Nogueira, proprietário da Casa Branca, situada na praça João Lisboa, em São Luis do Maranhão, contemplado com Cr$ 50.250,00. Em baixo, o sr. Ênio Favaro, industrial em Caxias do Sul, portador do título n. 66.057, combinação O VI, de Cr$ 50.000,00, amortizado com Cr$ 50.250,00 pelo sorteio de 30.6.48.


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Os Futuros Aviões Comerciais Nas Rotas Para a America Do Sul

Por COLSTON SHEPHERD
Do B. N. S., especial para “NOTICIÁRIO LOWNDES”

Do Rio a Londres Em 16 Horas

Estão sendo esperadas, na Grã-Bretanha, duas ou três decisões que terão grande influência sobre o transporte comercial aéreo entre a Europa e os países da América do Sul. Estamos esperando para ver quais os aviões a serem entregues pelo Governo à British South American Airways para utilização em futuro imediato; e que atitude será tomada, num futuro mais remoto, para a escolha de tipos de aviões. Esse segundo ponto será afetado pelas recomendações de um comitê de homens de negócios, nomeado pelo governo britânico, para investigar o sistema de encomendar aviões utilizado pelas três corporações que operam nos serviços aéreos. Não gostaria de antecipar as decisões que provavelmente serão tomadas, porque as considerações políticas e econômicas às vezes desempenham o seu papel, mas acredito que estamos nos encaminhando para uma fase em que as companhias operadoras poderão definir suas necessidades com uma certa margem de detalhes e planejar para o futuro com uma boa medida de liberdade.

Em outra ocasião, já me referi ao interesse que a British South American Airways pretende devotar ao serviço de frete aéreo. Expliquei as experiências que estão para ser realizadas sobre o reabastecimento de combustível, em pleno voo, para os aviões “Tudor II”, de modo que possam carregar o dobro da carga útil, na travessia do Atlântico Sul.

Se essas experiências forem bem-sucedidas, alguns dos “Tudors II” serão utilizados não como aviões de passageiros, mas como aviões de carga. Quanto ao tráfego de passageiros, acho que os aviões “York” e “Lancashire” terão de ser substituídos em breve por aparelhos de maior capacidade. E também, como de certo já sabem, os “Tudors IV” que operam entre Londres e as Índias Ocidentais, vão fazer uma rota mais para o Norte, ao reiniciarem o serviço de transporte de passageiros. Em vez de irem por Lisboa e Açores para as Bermudas e Nassau, farão o percurso via Bannon, na Irlanda, e Gander, na Terra Nova, chegando às Bermudas pelo norte. Resta saber que aviões adicionais, especialmente para passageiros, vão ser aprovados para as rotas meridionais.

Num futuro mais distante, há uma indicação de interesse especial, porque significa que haverá um serviço realmente rápido nas linhas de maior movimento. O governo britânico já decidiu ceder 6 aviões a jato “De Havilland” para uso na British South American Airways. Este tipo de avião, o “Comet”, terá uma velocidade de cruzeiro de 720 quilômetros por hora ou talvez mais. Isso quer dizer que a viagem entre as Bermudas e Londres poderá ser feita em 12 horas e entre o Rio e Londres em cerca de 16 horas. A ideia de visitar a Europa torna-se ainda mais atraente para os povos da América do Sul. Infelizmente, o “Comet” terá acomodação apenas para 25 passageiros. E quando esse novo avião entrar em serviço, talvez em 1952, o mundo já deverá estar mais normalizado e muitas pessoas quererão fazer visitas de comércio ou de recreio através do Atlântico. Esse pensamento me leva a outro assunto: o que disse há poucos dias um dos mais conceituados fabricantes de aviões da Grã-Bretanha, numa conferência que fez perante a Real Sociedade de Aeronáutica. O conferencista foi o Sr. Arthur Gouge que há vinte e cinco anos vem construindo hidroaviões e que tem agora em construção os três enormes hidroaviões “Saunders-Roe”.

Examinou as influências do transporte marítimo e terrestre que, nesses últimos cem anos, determinaram a frequência de serviço.

Achou que, no transporte por navio, estrada de ferro e ônibus, o intervalo entre os serviços é mais ou menos igual ao tempo que dura a viagem. E concluiu que isso também terá de aplicar-se ao transporte aéreo. Partindo dessa hipótese, procurou descobrir que capacidade deverá ter o avião do futuro e, considerando a rota do Atlântico Norte, entre Londres e Nova York, chegou à conclusão de que seriam precisos aviões de trezentos passageiros. Isso equivale a aviões três vezes maiores do que o “Bristol-Brabazon” e o hidroplano “Saunders-Roe” que estão sendo construídos, agora, pela Grã-Bretanha. Como perito em hidroplanos, argumentou muito naturalmente que Grã-Bretanha não pode continuar fazendo pistas cada vez mais resistentes para aviões cada vez maiores e que terá por força de voltar-se para hidroavião.

Ainda que demos o devido desconto à sua preferência pelo hidroplano, acho que há muita coisa a ser dita em favor desse ponto de vista, no que concerne ao transporte aéreo comercial. Não estou sozinho nesta convicção. E entre os que estão pensando muito a sério nas futuras possibilidades dos hidroplanos figuram funcionários de responsabilidade da British South American Airways. Sei que, no pé em que as coisas estão no momento, o tráfego de passageiros entre os países da América do Sul e Londres está longe de equiparar-se ao que existe entre a América do Norte e a Europa. Entretanto, está ainda em desenvolvimento e numa parte da rota tende a aumentar bem depressa por causa das novas áreas coloniais que a Grã-Bretanha está desenvolvendo na África. Além disso, todos esperam grandes desenvolvimentos nos países sul-americanos nos próximos 20 anos, e embora a relação econômica entre a Grã-Bretanha e a América do Sul possa ser diferente do que foi no passado, tende ainda assim para comunicações mais íntimas.

Não creio que os funcionários da British South American Airways estejam sendo demasiadamente otimistas quando pleiteiam a utilização, em suas linhas, no ano de 1952, de “Cometas”, “De Havilland” e hidroplanos “Saunders-Roe”.

Assim, as perspectivas são de um serviço realmente rápido, a preço de primeira classe, e um serviço um pouco mais lento ao preço da segunda classe. O “Saunders-Roe” não pode ser muito mais lento por causa do seu longo raio de ação. Sei que é muito perigoso indicar cifras antes das experiências de voo, mas acho que esses hidroaviões serão capazes de percorrer continuamente 5.600 quilômetros, levando uma carga útil de 20 toneladas, a uma velocidade de cruzeiro de pelo menos 480 quilômetros por hora. Vinte toneladas de carga útil correspondem a 100 passageiros e suas bagagens e 4 toneladas de frete.

Como já disse, estão sendo esperadas ainda as decisões a serem tomadas pelo governo britânico e não quero me aventurar a fazer profecias. Mas, de tudo quanto disse, é fácil inferir de que maneira a situação está se desenvolvendo e como pensam pessoas influentes em matéria de aviação civil aqui na Grã-Bretanha. Os britânicos gostam de fazer as coisas devagar e estudar muito antes de uma decisão. No caso do transporte comercial aéreo, estamos tentando estabelecer uma política segura e acho que todos podem estar certos de que vamos organizar uma boa série de serviços para as nossas rotas sul-americanas.


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Notas Sociais

VIVIAN LOWNDES

Temos a grata satisfação de assinalar a passagem do aniversário natalício do sr. Vivian Lowndes, ocorrido no dia 19 de junho próximo passado.

Infatigável homem de negócios, ocupando a presidência de várias firmas da Organização Lowndes, tem sabido granjear o respeito e a amizade de quantos com ele têm privado na sua vida de realizações. As inúmeras manifestações que recebeu nesta data, “Noticiário Lowndes” junta seus votos de felicidades.


NESTOR RIBAS CARNEIRO

Como nos anos anteriores registramos o movimento desacostumado que se verificou no dia 12 de agosto no primeiro andar do edifício Esplanada. Esse movimento é sintoma suspeito do aniversário do sr. Nestor Ribas Carneiro. E não nos enganamos no diagnóstico. Todos os seus auxiliares sabem que têm no sr. Carneiro um amigo dedicado. A sua capacidade de trabalho, integridade moral e compreensão devem o sr. Carneiro a amizade e admiração que todos unanimemente lhe tributam.

Ao amigo e colaborador deste “Noticiário” os nossos cumprimentos votos de prosperidade. 


JORGE SANTOS LIMA

No dia 4 de julho completou mais um aniversário o senhor Jorge Santos Lina, diretor da Cia. de Seguros Cruzeiro do Sul, destacado elemento da Organização Lowndes, a que o “Noticiário Lowndes” cumprimenta e faz votos de prosperidade.


JOSÉ ALBERTO REZENDE SANTOS

No dia 26 de agosto pp. teve lugar o aniversário natalício do sr. José Alberto Rezende Santos, superintendente geral da Produção da Cruzeiro do Sul Capitalização S.A. Por esse motivo, registrou-se uma reunião invulgar nos escritórios dessa filiada da Organização Lowndes, onde os amigos, colegas e colaboradores do aniversariante acorreram a felicitá-lo. Sobre a mesa, um monte de telegramas testemunhava a solidariedade dos que não puderam comparecer.

Ao sr. José Alberto Rezende Santos foi então ofertado um bonito relógio despertador de mesa. Num rápido improviso, o sr. Tácito Vale do Prado exprimiu o que todos sentiam com respeito ao homenageado pelas suas qualidades de trabalho, lealdade e simpatia. O sr. Nestor Ribas Carneiro, diretor Superintendente, em poucas palavras, confirma a solidariedade irrestrita da diretoria à atuação eficiente e profícua do aniversariante. A propósito, falou ainda o dr. Lauro Valle Filho. Visivelmente emocionado com aquela sincera manifestação de amizade e apreço, o sr. José Alberto Rezende Santos agradece.

A seguir, procedeu-se ao sorteio dos telegramas recebidos, cabendo a caneta esferográfica de 3 cores ao sr. Expedito Farias, organizador de Fortaleza. E com o tradicional bolo de aniversário, encerrou-se a simpática reunião de homenagem.

O “Noticiário Lowndes” associa-se às manifestações prestadas, desejando ao homenageado todas as felicidades.


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José Bonifácio de Andrada e Silva

Prof. RAUL PINTO DE MENDONÇA
(Jornalista, membro do Instituto Brasil Estados Unidos e do Instituto Genealógico Brasileiro)

Patriarca da Independência

José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca – Estadista, literato, cientista e filósofo. Nasceu em Santos, então Vila de São Paulo, Estado de São Paulo, em 13-6-1763. Faleceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em 6-4-1838. Filho do Coronel de Milícias, Bonifácio José de Andrada, português de nascimento, e de D. Maria Bárbara da Silva, Brasileira, de São Paulo. Aos 14 anos, havendo iniciado os estudos preliminares em Santos, foi para a cidade de São Paulo onde os concluiu. Em 1780, com 17 anos de idade, seguiu para Portugal, matriculando-se na Universidade de Coimbra, estudando leis, filosofia e ciências físico-naturais, cursos estes que terminou com o bacharelato em 1787, e com tal distinção que foi logo admitido Membro efetivo da Real Academia de Ciências. Uma pensão do governo facilitou-lhe uma excursão pela Europa, durante a qual foi aprofundando os seus conhecimentos, assistindo aos cursos das maiores sumidades do mundo no terreno da sua especialização, chegando mesmo a ser conhecido nos meios que frequentava como “o mestre da ciência”. Em 10 anos de viagens pelo mundo reuniu um cabedal científico que nenhum outro brasileiro ou português logrou reunir. Em 1790, de volta a Portugal, escreve uma série de memórias sobre mineralogia, o que valeu ser nomeado Intendente Geral das Minas, com graduação de Desembargador da Relação do Porto, Diretor e Superintendente das obras do Mondego. Administrador das Minas de ferro de Figueiró dos Vinhos e Lente Catedrático da Cadeira de Geognosia e Metalurgia da Universidade de Coimbra, cadeira esta criada especialmente para ele, a quem a Universidade, simultaneamente, conferiu o grau de Doutor em Ciências Naturais, professou ainda a docimásia na Casa da Moeda do Porto. Em 1807, com a invasão de Portugal pelo exército de Napoleão, José Bonifácio alistou-se no batalhão acadêmico organizado para enfrentar as hostes invasoras, constituído de lentes e alunos coimbrões, onde recebeu a graduação de Major e depois de Tenente Coronel. Com a retirada dos franceses do território português (1811), é ele nomeado Intendente Geral de Polícia do Porto até 1819, quando regressou ao Brasil.

Indo diretamente para Santos, iniciou uma excursão de caráter científico (pesquisas mineralógicas) por toda a província. Com a retirada de D. João VI para Portugal (1821) e o consequente estabelecimento da regência do Príncipe D. Pedro, José Bonifácio foi Vice-Presidente de uma Junta Política que se constituiu em São Paulo, assim como acontecia em outras províncias do país. Por essa ocasião, ele dirigiu um manifesto dos paulistas ao Príncipe, instando-o a ficar no Brasil, mesmo em desobediência às ordens vindas do Reino. D. Pedro, instado, faz a solene promessa de ficar (9-1-1822).

Foi nesse momento que o Regente teve seu primeiro contato com José Bonifácio, considerado o homem mais culto e inteligente do país. Por isso, ele foi nomeado Ministro do Reino em 16-1-1822. José Bonifácio tornou-se então um elemento indispensável ao lado do Príncipe, sendo o maior fator da nossa Independência proclamada em 7-9-1822, o que lhe rendeu o cognome de “Patriarca”. Pelo Príncipe, que já era Imperador, ele foi nomeado Ministro do Império e dos Negócios Estrangeiros. De temperamento enérgico, e talvez até mesmo déspota, José Bonifácio criou uma corrente de descontentamento contra seu governo, principalmente por parte dos portugueses, que se tornou tão grande que D. Pedro teve que intervir para amenizar a situação. Sentindo-se diminuído, José Bonifácio renunciou aos cargos. Os irmãos Andradas (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos) se uniram em oposição ao governo, seja pela imprensa, seja na Assembleia Constituinte, da qual Antônio Carlos também fazia parte. D. Pedro dissolveu a Assembleia em 12-11-1823, prendeu os irmãos Andradas e os deportou. José Bonifácio estabeleceu-se em Bordeaux, França (1823 a 1829), onde retomou seus estudos científicos. Lá, ele publicou suas “Poesias avulsas” (1825) sob o pseudônimo arcaico de “Américo Elísio”. Em 1829, ele retornou ao Brasil e se estabeleceu na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, até a abdicação do Imperador em favor de seu filho, D. Pedro, um menino de 6 anos de idade, em 7-4-1831. Para surpresa geral, José Bonifácio foi nomeado pelo Imperador renunciante como tutor de seus filhos que ficaram no Brasil. Com a saída de D. Pedro I, o Partido Restaurador foi organizado e acusaram José Bonifácio de ser um dos inspiradores. O Padre Antônio Feijó, Ministro da Justiça e o verdadeiro orientador do governo, mandou prendê-lo no Paço Imperial da Boa Vista, onde ele residia com seus pupilos, e o enviou para a ilha de Paquetá com a ordem de não abandoná-la. Além disso, ele foi destituído da tutoria em 15-12-1833. Essas arbitrariedades foram homologadas pela Assembleia em 1834. Apesar da proibição de deixar a ilha, José Bonifácio mudou-se para Niterói, onde veio a falecer em abril de 1838. Seu corpo foi transportado para Santos e sepultado no Convento do Carmo. José Bonifácio, que foi um dos maiores sábios de sua época, conhecia quase todas as línguas faladas e era um profundo conhecedor das ciências físico-naturais, além de ser um grande filósofo. Ele era membro da maioria das associações culturais do mundo e é o patrono da Cadeira nº 16 dos Correspondentes portugueses na Academia Brasileira de Letras.

CONDECORAÇÕES: José Bonifácio, apesar de ter vivido com tanto destaque no regime monárquico, não possuía Condecorações porque recusou todas as que lhe foram oferecidas, inclusive, mesmo, o título de Marquês.

BIBLIOGRAFIA: “Memória sobre a pesca da baleia”, 1790; “Memória sobre os diamantes do Brasil”, 1790; “Viagem geognóstica aos montes Euganeos no território de Pádua”, escrita em 1794, (publicada nas memórias da Academia em 1812); “Viagem mineralógica” pela Província da Extremadura até Coimbra, 1800; “Memória sobre o fluido elétrico”, 1812; “Memória” sobre terrenos que pelo arado não dão frutos, mas, sendo cavados com o picão do mineiro, sustentam mais, do que se fossem férteis? 1813; “Memória sobre as minas de carvão de pedra de Portugal”, 1813; “Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal”, 1815; “Memória sobre a nova mina de ouro da outra banda do Tejo chamada Príncipe Regente”, 1815; “Memória mineralógica” sobre o distrito metalífero entre os rios Alva e Zêzere, 1816; “A Primavera” idílio traduzido do grego, 1816; “Elogio acadêmico de Dame Marie Première” (pronunciado em Sessão pública da Academia Real de Ciências de Lisboa em 20 de março de 1817, e publicado em português no Rio de Janeiro em 1857); “Discurso histórico” proferido na Sessão pública da Academia Real das Ciências de Lisboa, em 24-6-1818; “Discurso Histórico” idem, idem, 1819; “Estudos para a Sociedade Econômica da Província de São Paulo”, 1821; “Representações” que à Augusta presença de Sua Alteza Real o Príncipe Regente do Brasil levaram o governo, o senado da Câmara e clero de São Paulo por meio de seus respectivos deputados, como o discurso que em audiência do dia 25 de Janeiro de 1822 dirigiu em nome de todos ao mesmo Augusto senhor o conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, ministro, etc. Rio de Janeiro, 1822. (Foram reimpresas nas “Cartas e mais peças oficiais dirigidas a sua Majestade, o Senhor D. João VI, Lisboa), 1822; Edital” 12 de dezembro de 1822 convidando o comércio a dar mais latitude às suas especulações, abstendo-se das relações com os negociantes de Portugal, 1822: “O Tamovo”. (é uma folha política, fundada e redigida por José Bonifácio, após sua retirada do poder, 1823; “Apontamento” para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil, 1823: “Projeto” de Constituição para o Império do Brasil, 1823: “Representação” à Assembleia Geral Constituinte e legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura, 1825. (Houve várias edições no Império, sendo uma no Rio de Janeiro no mesmo ano de 1825, outra no Ceará em 1831, outra no Rio de Janeiro em 1840, e finalmente a de 1884 com o título “A abolição”. (Foi traduzida em inglês por William Walton e publicada em Londres, em 1826; “Poesias avulsas” de Américo Elísio, (pseudônimo arcaico). 1825: “Poesias” de Américo Elísio. (Esta edição contém novas poesias, como a “Ode aos gregos” e a “Ode aos baianos”). (Muitas de suas poesias foram reproduzidas, como “Ode aos baianos”, “Ode aos gregos” e o “Ditirambo a Baco e a Amor”, que se encontram no “Mosaico poético”; “Protesto” à nação brasileira e ao mundo inteiro pelo cidadão José Bonifácio de Andrada e Silva, deputado pela Bahia, 1831; “Manifesto” do G O’ B e todos os GG 00 GG LL LL RR e MM de todo o mundo, 1832; “Manifesto” do G O’ B e todos os GG 00 GG LL RR e MM* de todo o mundo, 1837; “Memórias sobre as pesquisas e lavras dos veios de Chacion, Souto, Ventozelo e Vilar de Rei na Província de Trás-os-Montes, 1818; “Amérique méridionale” (voyage minéralogique dans la province de Saint Paul du Brésil), 1829; “Geologia elementar” aplicada à agricultura e indústria, 1846; “Experiências químicas sobre a quina do Rio de Janeiro”; “Cantigas baquicas”; “Memória sobre as preciosas minas de Salha” (em alemão). Esta memória e outras sobre as minas da Suécia lhe granjearam o título de Membro da Real Academia das Ciências de Estocolmo; “Carta ao Engenheiro Beyer” (foi publicada em alemão e depois traduzida em inglês e em francês, sendo reimpressa em vários jornais da Inglaterra e da França. A Biblioteca Nacional possui. José Bonifácio deixou as seguintes obras inéditas: “Jornal de suas viagens”; “Tratado de mineralogia” (em vários escritos seus, publicados, ele se refere a essa obra, que ainda projetava escrever); “Compêndio de montanhismo” geometria subterrânea, docimásia metalúrgica. (Era seu compêndio em Coimbra); “Testamento metalúrgico” (de que foi encetada a publicação em Lisboa, sendo proibida a continuação, porque as primeiras folhas impressas continham ideias contrárias a certas opiniões teológicas); “Memória sobre o trabalho e manipulação das minas de ouro em geral”; “Obras de Virgílio” traduzidas com comentários; “Ensaio de história contemporânea”; “Observações sobre várias minas da Europa”; “Viagem geognóstica” feita pela Província de São Paulo por José Bonifácio e seu irmão Martim Francisco de Andrada e Silva, (1783 a 1819); “Dissolução” poema. (Seu assunto é a dissolução da Assembleia Constituinte do Império, nele há vários episódios relativos à Independência dos quais alguns só foram testemunhados pelo Imperador e pelo autor).


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Agentes Em Desfile

Carlos B. Rabello

Ao iniciar esta seção, no número anterior de nossa revista, escolhi como primeiras vítimas os prezados amigos senhores Carlos Ebner, Albino Belz, José Jucá de Albuquerque e Joel de Souza Pinto. Todos esses mostraram-se verdadeiros cavalheiros, não enviando nenhum desafio para duelo, e isso poupou-me o trabalho de pedir garantia de vida à nossa polícia, já tão atarefada com os crimes de machadinhas.

Com esse resultado, animei-me a continuar e assim escolhi para as minhas flexadas de hoje os amigos José Barcellos de Azevedo, Silvestre Calamba, Vitor C. Portela e Lourival de Almeida.

JOSE BARCELLOS DE AZEVEDO – A. C. Barcellos & Cia. Ltda. – Porto Alegre.

Este meu grande amigo, chefe dessa importante firma que representa em Porto Alegre as Companhias “Sagres” e “Imperial” de nossa Organização, é uma figura ímpar do alto comércio do Rio Grande do Sul.

Além de ser um dos maiores plantadores de arroz, é grande criador de selecionadas raças de gado vacum e cavalar, possui também empresas de navegação fluvial e lacustre e seu nome está ligado a várias indústrias importantes do Rio Grande do Sul.

Pois bem, meus leitores, fiquem sabendo que esse cavalheiro tão credenciado é uma figura perfeita de democrata, de homem simples e de uma modéstia tão grande que chego a ficar receoso de ofendê-lo com o que estou escrevendo a seu respeito. Saibam também que o nosso Azevedo tem a sua maniazinha e vou explorá-la nesta crônica.

A sua mania é ser um exímio cozinheiro e não se furta ao prazer de declarar isso a todos os seus amigos.

Estávamos em Porto Alegre, eu e o Lopes Netto, a serviço das empresas da Organização Lowndes, no Carnaval passado, quando fomos convidados pelo Azevedo para saborear um churrasco em sua vivenda de Ipanema, esse belo recanto da capital gaúcha, situado às margens do Guaíba.

Naquele lindo sábado de verão gaúcho, seguimos de automóvel, revezando-nos na direção, pela linda avenida que contorna o Guaíba, atravessando as praias de Soledade e Assunção. Em caravana, deixamos Porto Alegre às 10 horas da manhã, eu, Lopes Netto e Humberto Agostinelli, este último inspetor geral da Cruzeiro do Sul Capitalização S.A. no Rio Grande do Sul.

Quando chegamos a Ipanema, por volta de meio-dia, fomos recebidos pela família Azevedo, que gentilmente nos disse que nosso amigo se encontrava desde cedo junto ao fogo, preparando o churrasco e não permitindo a aproximação de pessoa alguma.

No imenso terreno da chácara, em um recanto sob frondosas árvores, avistamos o nosso anfitrião de shorts bem curtos, sapatos tênis, boné de jóquei e óculos escuros Ray Ban, ao redor de um imenso braseiro onde eram tostados deliciosamente inúmeros frangos, costelas gordíssimas, grandes filés e grande quantidade de linguiças maravilhosas.

Diante do limitado número de pessoas, julgamos que aquilo fosse um verdadeiro exagero, porém, muito nos enganamos…

Após os aperitivos e salgadinhos, fomos para as mesas toscas armadas naquele verdadeiro paraíso de verduras, de acolhedora sombra e delicada brisa, e comemos… comemos até não poder mais. Não é necessário dizer que as garrafas de vinho eram em número semelhante aos comestíveis já devorados.

Como não poderia deixar de ser, chegou a hora dos discursos solenes e todos nós expressamos a felicidade que sentíamos de privar de momentos tão alegres, junto de amigos tão bons, e que nos tinham enchido a barriga até não poder mais.

Em dado momento, o Azevedo levantou-se lentamente, abriu a boca e… não falou. Sentiu-se tão empolgado pela emoção que não encontrou palavras, mas teve lágrimas para agradecer o que dele dissemos com sinceridade.

Horas depois, já na Avenida Borges de Medeiros, encontrei-me com o Carlos Ebner puxando o “Bloco das Lindas Morenas” e contei-lhe das delícias daquele churrasco. Quase apanhei por não tê-lo avisado com antecedência.

SILVESTRE GALAMBA — Othon Bezerra de Mello & Cia. — Recife.

O Galamba é o encarregado da seção de seguros dessa importante firma brasileira que representa em Pernambuco as Cias. London & Lancashire, Sagres e Cruzeiro do Sal.

Suas notas biográficas: Português de nascimento; branco; casado; 1,65 de altura; 60 quilos de peso; pé 44 bico largo; Vascaíno até à medula.

Dizem que em 1947, quando o Vasco levantou invicto o campeonato carioca, sentiu-se tão feliz, que pagou ao pessoal do Cotonifício Othon (funcionários e operários) uma cervejada que importou em Cr$ 9.988,80.

Tem uma filhinha, que é um verdadeiro querubim e constitui toda a razão de suas alegrias.

No Estado de Pernambuco é muito difícil encontrar um cidadão mais ativo que o nosso amigo. É capaz de andar a pé até Jaboatão, para fazer um seguro de Cr$ 100,00 de prêmio.

A sua qualidade primordial é ser o cavalheiro mais prestativo que conheço; para fazer um obséquio a um amigo é capaz de todos os sacrifícios.

A mania do Galamba, pois ele também tem sua, são as pescarias e é capaz de trabalhar todo o dia e a noite estará firme em Boa Viagem ou no Pina, com suas redes e anzóis.

É preciso que se note que o Galamba só encontra prazer nas pescarias noturnas, dizendo a todos que durante o dia os peixes são mais ariscos.

Quando estive em março deste ano em Recife, fui convidado para uma dessas pescarias noturnas e, como nunca me furto a compartilhar dos prazeres de nossos agentes, aceitei.

O ponto escolhido foi a Boa Viagem e numa certa sexta-feira, às 22 horas, nessa linda praia pernambucana, iniciamos as nossas atividades.

O resultado não foi mau, pois apanhamos duas tainhas bem grandes. Fiquei, porém, tão enjoado com o cheiro de maresia que até hoje não consigo nem olhar para essa qualidade de peixe sem sentir náuseas.

VITOR C. PORTELA — Belém do Pará

Vitor C. Portela é o titular dessa importante firma que representa no Pará, as nossas Companhias “Sagres”, Cruzeiro do Sul e London & Lancashire.

Nascido em Portugal, recebeu ali uma instrução aprimorada, laureando-se em ciências econômicas, depois do que, veio para o Brasil, onde via maiores possibilidades para aplicar sua inteligência e seus conhecimentos.

Hoje é Presidente do Rotary Club do Pará e representa além das nossas Companhias, várias firmas americanas e inglesas, mundialmente conhecidas.

Há alguns anos atrás, em uma de suas viagens ao Rio de Janeiro, encontrou-se com uma linda senhorita francesa da alta sociedade carioca e naturalmente apaixonou-se, porém, teve que regressar a Belém, sem realizar o seu grande sonho.

Ao desembarcar naquela cidade, antes de penetrar em seus escritórios, dirigiu-se à Igreja de N. S. das Mercês, ajoelhou-se e fez uma prece contrita, pedindo uma graça. Prometeu à Virgem, que se realizasse o seu casamento com a linda francesinha, sua eleita, jamais deixaria de ouvir missas dominicais naquele Templo.

Casaram-se e são hoje muito felizes, deliciosamente felizes. Até hoje, jamais deixaram de ouvir a missa das nove, aos domingos, na poética Igrejinha das Mercês. Tanto o Vitor como sua esposa, Mme. Suzane, têm também a sua mania, como todos os mortais. São antiquários, mas antiquários dos bons, dos que conhecem o assunto. Não compram gato por lebre.

Quando estive em Belém, no início do ano corrente, fui informado de que nossos amigos acabavam de regressar de uma viagem que fizeram pelo interior do Pará, conseguindo um sucesso sem precedentes, pois teriam adquirido na cidade de Carutapéra, o berço de D. Fuas Ropine, o fidalgo que foi salvo do diabo transvestido de galheiro, pela Virgem de Nazaré.

Mme. Suzane Portela, possuidora de um coração magnânimo, mantém várias crianças pobres com o fruto de esmolas piedosas que recolhe. Caso vocês que estão lendo queiram enviar suas espórtulas, podem dirigi-las para caixa postal 454 em Belém, pois garanto que serão muito bem recebidas e aplicadas por essa distinta dama. Devo ainda declarar que esse reclame é espontâneo.

LOURIVAL ALMEIDA — Almeida, Bastos & Cia. — Florianópolis.

Lourival Almeida, esse espírito de escol de Florianópolis, alia à sua capacidade de Diretor-Gerente do Banco Agrícola de Santa Catarina, as funções de representante comercial em todo o Estado, representando a nossa Cia. de Seguros “Imperial”.

Antes de falar das manias do Lourival, desejo abrir um parêntesis, para dizer alguma coisa sobre Florianópolis e sua gente. Nessa risonha capital de um grande Estado do sul do Brasil, habita um povo culto e bom que recebe sempre de braços abertos, todos os forasteiros que têm a ventura de passar por lá.

Muito acertadamente andaram os nossos dirigentes, quando denominaram Florianópolis, a antiga Ilha do Desterro, nome inexpressivo, que jamais diz o que se sente, nessa terra tão fidalga.

Entre as suas associações recreativas, destaco o “Clube 12 de Agosto”, onde a partir das 17 horas, reúnem-se as figuras mais representativas, como o Governador do Estado, deputados, banqueiros, militares e etc., e entre os goles de aperitivos, são travadas palestras admiráveis sobre brasilidade, arte, política e tantas outras coisas boas, que tanto bem nos fazem à alma.

Ao Lourival devo o obséquio de ter ingressado nesse clube, de cujas reuniões, guardo sempre as mais gratas recordações.

Dito isto, passo a falar sobre o Lourival e suas manias.

O nosso bom amigo é um extraordinário declamador. Sem favor algum, considerado um dos maiores “diseurs” do sul do país. Na Rádio de Florianópolis, tem o seu programa, denominado “Hora Literária”, no qual tomam parte os elementos de maior destaque intelectual de Santa Catarina. Nesse programa é bem difícil deixar de ouvir o Lourival, recitando um bom poema, um inspirado soneto.

Jamais esquecerei um fato passado há anos. Uma noite encontrei-me com o Lourival em Porto Alegre, onde ambos estávamos de passagem. Depois das manifestações de alegria, tão próprias de um encontro inesperado, combinamos jantar juntos e depois continuamos os nossos passeios, até que chegamos a um cassino, onde resolvemos passar algumas horas.

Ambiente fino, boas orquestras, melhores bebidas, desfrutava-se ali. 

Num dado momento o Lourival levantou-se, subiu ao palco das orquestras, falou qualquer coisa ao ouvido do maestro e logo depois o cabaretier, pediu silêncio e anunciou que o grande “diseur” Dr. Olavo Alvarus (pseudônimo improvisado) iria declamar um poema de sua autoria.

Embaraçado fiquei com a atitude do meu companheiro de mesa, que viria trazer sobre nós a curiosidade de todo aquele auditório. Quando, porém, notei a vibração que se apoderava de todos os presentes, é que compreendi que as ponderações do homem de negócios tinham sido sufocadas pelo frenesi daquela alma de verdadeiro artista.

Por hoje é só. No próximo número terá mais.


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Veja Se Sabe…

…Veja se pode responder corretamente às 20 perguntas abaixo experimentando assim sua cultura e sua memória Cada pergunta certa vale 5 pontos. De 80 a 100 pontos, é um resultado ótimo; de 60 a 80, bom; 50 a 60, regular. Confira o resultados com as respostas certas no fim da revista.

  1. O que você entende por concatenar? Rodear, arrumar ou relacionar?
  2. Qual é a coisa que se pode ver num minuto, duas vezes num momento e nenhuma vez num ano?
  3. O célebre Museo del Prado está situado na capital da Argentina, Espanha ou Chile?
  4. Um homem que comeu o pai e a mãe, o que é?
  5. O romance Mar Morto foi escrito por Aquilino Ribeiro, Erico Verissimo ou Jorge Amado?
  6. Um homem que nasceu na Inglaterra, estudou na França, casou em Portugal e morreu no Brasil, o que é?
  7. O que você entende por esquizofrenia: uma variedade de cogumelo, uma doença mental ou uma associação secreta?
  8. O que é que Deus nunca vê, o rei vê de vez em quando e o homem vê sempre?
  9. O que é teodolito: uma inflamação das conjuntivas oculares, um instrumento de precisão ou um capítulo da teosofia?
  10. De que se deve encher um barril vazio para ficar mais leve? 

RESPOSTAS

  1. Relacionar
  2. A letra M
  3. Espanha
  4. Órfão
  5. Jorge Amado 
  6. Defunto
  7. Uma doença mental
  8. O seu semelhante
  9. Um instrumento de precisão
  10. Buracos


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Receitas do Trimestre

SOPA – CREME DELICIA

Faça um caldo de carne e ossos, bem gostoso e cozinhe meio quilo de cenouras grandes. Depois de cozidas, tire com a colher de cortar, pequenas pérolas e guarde. O resto da cenoura deite ao caldo. Junte 2 colheres de fubá de arroz desfeitas em 2 xícaras de leite. Passe tudo pela peneira, junte meia colher de sopa de manteiga e as pérolas de cenoura. Leve a esquentar e sirva quente.


SOUFFLÉ DE ESPINAFRE

Toste uma colher de manteiga com outra de farinha de trigo. Molhe com 2 xícaras de leite, que deve ser posto aos pouquinhos. Ferva um pouco e junte a um prato fundo de espinafres, que já devem ter sido cozidos. sem sal e açúcar, espremidos e batidos. Junte 3 gemas, 2 colheres de queijo ralado e por último 3 claras batidas em neve. Forma untada com manteiga e polvilhada de queijo. Não se deve deixar endurecer para ficar delicado como um creme. Põe-se em forno regular de 15 a 20 minutos e serve-se ainda quente.


SOBREMESA

“Surpresas”

Tira-se uma tampinha e depois toda a polpa de 6 laranjas. Espreme-se a polpa num pano. Leva-se a ferver folhas de gelatina branca numa xícara de água, depois mistura-se a laranja. (Deve-se botar a laranja na gelatina e não ao contrário). Junta-se a esta uma clara e bate-se até desaparecer, levando-se ao fogo com 250 gramas de açúcar. Logo que levante fervura, passa-se por um pano e junta-se 1 cálice de vinho do Porto e água até completar um litro. Retira-se a quarta parte deste líquido e junta-se 2 folhas de gelatina vermelha que já foram dissolvidas em meia xícara de água. Enchem-se as laranjas faltando um centímetro para completar. Leva-se à geladeira até endurecer, depois termina-se de encher com gelatina vermelha. Depois de geladas corta-se as laranjas em 4 tendo o grande cuidado de não separar os gomos.


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A Turbina a Gás Para Automóveis

(De Londres pelo B.N.S.)

Uma das amostras mais interessantes da seção de Birmingham da Feira das Indústrias Britânicas, encerrada no dia 14, foi uma turbina a gás em miniatura, que se destina a ser usada em veículos motorizados. Embora seja de fabricação de uma firma particular, está sendo exposta pelo Ministério do Abastecimento, no “stand” especial de motores de propulsão a jato, com o propósito de demonstrar o progresso que a Grã-Bretanha vem realizando nesse importante ramo da mecânica.

A turbina, que se julga estar 15 anos adiante de sua época, deverá ter um rendimento equivalente ao de um carro de 35 a 40 cavalos, movido a gasolina. Seu combustível natural é o óleo Diesel, mas funcionará com qualquer substância que produza uma chama contínua; outra vantagem é que o consumo de lubrificantes será mínimo.

Como o novo motor não exige sistema de refrigeração, nem caixa de mudanças, e mede apenas um metro e cinquenta e dois de comprimento e 178 milímetros de diâmetro, há grande margem para alteração da estrutura dos automóveis. Poderia ser instalado sob o chão do carro, por exemplo, no lugar atualmente ocupado pelo eixo de transmissão. Seu peso reduzido de 114 quilos permitiria uma carroceria excepcionalmente espaçosa, sem prejuízo do rendimento.

O modelo exibido na Feira das Indústrias Britânicas só é apropriado para carros grandes, caminhões, barcos e aviões leves, mas é provável que não tarde a ser idealizada uma versão menor. Entretanto, antes de se tornar praticável o uso generalizado de turbinas a gás em automóveis, será preciso descobrir um meio de reduzir o preço da fabricação, pois atualmente um dos principais obstáculos é o preço elevado das diversas ligas que têm de ser usadas.

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